Título: Ministros 'cantam' queda antes da hora
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Economia & Negócios, p. B9

Antes mesmo de o Banco Central anunciar ontem a queda de 0,50 ponto porcentual do taxa de juros, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) já "cantavam" a redução da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Declarando-se um otimista, Mantega chegou a afirmar que confiava nos "companheiros que lá estão" no Copom.

"Os juros até hoje às 16h são 15,75%. Às 19h teremos uma outra taxa de juros que eu não sei qual é. O Brasil vem praticando há algum tempo taxas excessivamente altas, que vêm sendo reduzidas. Hoje continuará havendo essa redução", disse Mantega, referindo-se ao horário em que o BC costuma divulgar a decisão do Copom. Ele prometeu que ainda em 2006 as taxas de juros nominal e real (descontada a inflação) serão as menores dos últimos tempos.

O ministro do Planejamento também deu o seu palpite: "Se olharmos para o objetivo essencial da política monetária, que é o controle da inflação, há margem para baixar os juros". Segundo Paulo Bernardo, o BC tem feito um bom trabalho. "A discussão é quanto vai cair."

Com o mesmo argumento, o ministro da Fazenda argumentou que a projeção de IPCA de 4,3% para o fim do ano - abaixo do centro da meta de 4,5% - dá um fôlego maior para que o BC continue a reduzir a Selic.

CÂMBIO Em resposta às críticas à política cambial do governo, Mantega defendeu o BC em audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. Disse que não é verdade que o Banco Central não fez nada para atenuar a valorização do real, que vem prejudicando setores da economia, principalmente o agronegócio.

Para defender o BC, o ministro lembrou que, no fim do ano passado, a autoridade monetária comprou mais de US$ 30 bilhões no mercado, que foram parar nas reservas internacionais. "Nos últimos três anos, BC e Tesouro compraram US$ 150 bilhões no mercado."

Segundo Mantega, o BC tem comprado dólar, muitas vezes "agressivamente". "Antes destas turbulências, chegou a comprar US$ 1 bilhão por dia. Eu estava acompanhando isso justamente para evitar uma valorização excessiva do real", revelou.