Título: Bolívia ficou sem diesel por atraso de pagamento
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Economia & Negócios, p. B10

O diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer, refutou ontem as acusações feitas pela Bolívia de que a estatal brasileira teria praticado sabotagem no país vizinho, ao suspender o fornecimento de diesel ao mercado. "Não há o que comentar porque esta acusação não corresponde à realidade", afirmou.

No final do dia, entretanto, a Petrobrás divulgou nota à imprensa, por meio de sua subsidiária na Bolívia, explicando que a interrupção havia ocorrido durante uma semana porque o governo boliviano não estava pagando o que devia pelo combustível.

O diesel que chega ao mercado boliviano é 100% importado, sendo que a Petrobrás atende a 80% deste mercado. O restante vem por meio de outras empresas privadas e algumas clandestinas. Para compensar o elevado custo do combustível no mercado internacional, o governo boliviano paga aos importadores Notas de Crédito Fiscal (Nocre), uma espécie de subsídio que garante preços internos bastante inferiores e acessíveis à população.

Segundo a Petrobrás, a suspensão temporária das importações foi "um último recurso a que a estatal se viu obrigada a recorrer diante da incapacidade financeira de seguir importando o combustível", devido a constantes atrasos no pagamento dessas notas.

Desde outubro, acordo entre a estatal brasileira e o governo boliviano havia estabelecido que o pagamento pelo combustível recebido seria efetuado até no máximo 12 dias a partir da entrega, mas desde que a atual administração assumiu o governo local, o atraso se tornou mais intenso.

USINA As declarações de Sauer foram feitas durante a inauguração da Usina Termoelétrica (UTE) Governador Leonel Brizola, a antiga TermoRio, localizada em Duque de Caxias (RJ), a maior termelétrica do Brasil a gás natural. Com capacidade para produzir até 400 toneladas por hora de vapor, que abastecerão a Refinaria Duque de Caxias e 1.036 MW - o equivalente a 22% da energia consumida no Estado do Rio de Janeiro -, a unidade consumiria 5,5 milhões de m3 de gás se utilizasse sua potência máxima, praticamente o mesmo volume destinado hoje ao Gás Natural Veicular em todo o Brasil.

A usina fazia parte do Programa Prioritário de Termoelétricas, lançado pelo governo passado, e tinha seu capital dividido entre a Petrobrás (50%) e a americana NRG (50%). Um compromisso que obrigou a Petrobrás a remunerar o capital investido por terceiros em várias usinas, entre elas a Termorio, provocou a negociação da estatal para ficar com a unidade, investindo um total de US$ 715 milhões. Atualmente, lembrou o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, na cerimônia, a companhia possui sozinha 11 térmicas no País e 3 três em parceria com grupos privados.

Ao anunciar o novo nome da usina, em homenagem ao ex-governador Leonel Brizola, Gabrielli assumiu tom nacionalista e defendeu a presença do Estado no planejamento estratégico do setor de energia no País.

"É claro que não podemos descolar as atividades da empresa das atividades do mercado. No entanto, o planejamento, a intervenção estatal, a expansão da atividade econômica como um todo, como uma visão estratégica, é fundamental para garantir o crescimento deste País", disse Gabrielli. " A experiência que tivemos, de deixar o livre mercado funcionar, não é uma experiência que podemos dizer que deu certo", observou.

Hoje a Petrobrás inicia nova obra na área de gás, desta vez no Amazonas.

Com a presença do presidente Lula, serão iniciadas as obras do gasoduto Urucu-Manaus, que levará o gás natural de Urucu, a 650 quilômetros de Manaus, até a capital do Amazonas.