Título: Evo quer gás com preço novo ainda esta semana
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Economia & Negócios, p. B10

O presidente da Bolívia, Evo Morales, instruiu ontem o ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, a apressar as negociações com Brasil e Argentina sobre o preço do gás. Ele quer que os novos valores sejam definidos esta semana. "É urgente que se negocie e se defina esta semana melhores preços para a exportação de gás", disse Evo em Escoma, a 180 quilômetros de La Paz, durante a entrega de um dos 20 hospitais que serão instalados no país com o apoio de Cuba.

As negociações entre os países estão praticamente paralisadas. Brasil e Argentina são os únicos mercados do gás boliviano, por enquanto. Mas, ontem, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) informou estar trabalhando num plano de médio prazo, entre 4 e 5 anos, para mais do que duplicar a exportação de gás natural para países da América do Sul. Segundo o assessor da presidência da YPFB, Manuel Morales, a Bolívia pretende elevar a exportação de gás seco dos atuais 30 milhões de metros cúbicos por dia (m3/dia) para 70 milhões de metros cúbicos diários. A novidade é que o Brasil não está incluído como destino.

Em reunião do Conselho Nacional de Política Energética, no Brasil, foi ratificada a decisão da Petrobrás de suspender definitivamente o plano de expansão do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Ao limite atual de 30 milhões de metros cúbicos por dia, a Petrobrás pretendia, a partir de 2008, expandir a importação em mais 15 milhões de m3/dia. O plano foi enterrado pelo programa de nacionalização de Evo Morales.

Assim, a YPFB começa a procurar novos compradores. Os 40 milhões de metros cúbicos diários seriam mandados para Argentina e Paraguai, um novo comprador. "Não incluímos o Chile, que também é um potencial consumidor. Também está fora desta conta o gás para a produção de derivados e produtos petroquímicos, parceria que teremos com PDVS", afirma a estatal boliviana.

O Brasil mantém a compra dos 30 milhões de metros cúbicos do insumo por dia até 2019, quando expira o contrato. O País conta com esse volume para fechar o balanço entre oferta e demanda até 2011. O consumo no País, até lá, estará próximo de 100 milhões de metros cúbicos diários.

A Petrobrás vai acelerar a exploração de gás nas Bacias de Campos, Espírito Santo e Santos, para compensar a desistência do gás da Bolívia. Pretende produzir 24,2 milhões de metros cúbicos por dia, o que a YPFB considera positivo. Segundo Manuel Morales, embora o Brasil tenha desistido da expansão do Gasbol, a Bolívia será sempre uma "fonte alternativa".

SEM INDENIZAÇÃO AYPFB voltou a afirmar que está descartada qualquer indenização pelas duas refinarias da Petrobrás, Gualberto Villarroel, de Cochabamba, e Guillermo Elder Bell, de Santa Cruz de la Sierra. "Não há e não haverá qualquer indenização. Não cabe isso", disse Manuel Morales.

Segundo ele, o acordo feito entre os ministros de Hidrocarbonetos, Soliz Rada, e de Minas e Energia, Silas Rondeau, na reunião que marcou o início das negociações, determinou um encontro de contas entre as empresas para estabelecer "quem deve pagar quem".

O governo boliviano afirma que tem créditos fiscais que cobririam qualquer pagamento de indenização em razão da nacionalização.

Como este é um tema que nem sequer começou a ser negociado, não há ainda qualquer prognóstico sobre a conclusão.