Título: Após 2 meses estável, emprego na indústria cai 0,3% em março
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2006, Economia & Negócios, p. B11

Salários recuaram 2%, também em relação a fevereiro, segundo IBGE

Os efeitos da lenta recuperação na atividade industrial ainda não chegaram ao mercado de trabalho. Após dois meses sem queda, o emprego industrial caiu 0,3% em março ante fevereiro. Na mesma comparação, os salários também caíram 2% no mês - embora tenham subido 0,5% no primeiro trimestre. Mas essa pequena elevação pouco adiantou para melhorar o cenário: com o resultado de março, o número de trabalhadores na indústria recuou 1% no primeiro trimestre deste ano, ante igual trimestre em 2005.

Os dados foram anunciados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que anunciou a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) de março. Para a coordenadora da pesquisa, Isabela Nunes, a queda em março, muito próxima de zero, representa um cenário mais voltado para acomodação. "Acho que o cenário de emprego na indústria, na margem, mostra sinais de estabilidade."

Porém, ela admitiu que os resultados acumulados do mercado de trabalho na indústria são negativos. Além da queda na comparação com o primeiro trimestre de 2005, o número de trabalhadores na indústria também caiu 0,4% ante o último trimestre do ano passado. Para Isabela, faz sentido a falta de reação nos resultados do mercado de trabalho, visto que os setores que estão comandando a recuperação na atividade industrial - como os de veículos, celulares, fabricação de televisores e eletrodomésticos em geral - não são aqueles que mais empregam. "Esses setores contam muito com o uso de máquinas para fazer o serviço", disse a economista.

Enquanto isso, outras áreas que são muito intensivas em emprego não estão apresentando bons resultados de produção industrial. É o caso dos setores de calçados e de madeira - que mostraram, na pesquisa anunciada ontem, quedas respectivas de 11% e de 26,28% no número de trabalhadores, em março ante fevereiro.

Para a analista da consultoria Tendências, Cláudia Oshiro, o levantamento de março do IBGE mostra que o mercado de trabalho na indústria continua com fraco desempenho. Ela mencionou ainda que houve outras quedas em indicativos importantes, como o número de horas pagas na indústria - que caiu 1,18% em março ante fevereiro e apresentou queda de 0,4% no primeiro trimestre deste ano.

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), João Carlos Gomes, vai mais além. Para ele, o resultado de março para horas pagas sugere que a retração do emprego industrial poderá ter continuidade nos próximos meses. "As indicações da pesquisa de emprego não são boas", afirmou o analista.

Segundo ele, o número de horas pagas antecipa possíveis movimentos nas contratações, além de ser um indicador de volume de produção. Na avaliação de Gomes, os dados da pesquisa de março também podem significar os primeiros indícios de uma interrupção do processo de reaquecimento da indústria. Porém, considerou que ainda é cedo para ter certeza sobre isso. "Será necessário aguardar os dados de abril e averiguar as tendências para o mês de maio, para se ter uma visão mais precisa sobre as tendências do setor industrial brasileiro", disse Gomes.