Título: Rodrigues: 'Nem que a vaca tussa eu continuo'
Autor: Gustavo Porto, Fabíola Gomes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2006, Economia & Negócios, p. B7

Rodrigues reclama da preferência do governo pela agricultura familiar e diz que não fica num eventual 2.º mandato

Depois de ter sua permanência defendida por lideranças do agronegócio após o final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou que "nem que a vaca tussa eu continuo" e que "após o término do governo minha missão estará cumprida". Na cerimônia de abertura da Agrishow Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o ministro admitiu ser "difícil e chato" lidar com as críticas ao governo federal e ao mesmo tempo ser poupado delas. O presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Carlo Lovatelli, e o presidente da feira, Sérgio Magalhães, foram os principais defensores de Rodrigues e críticos da política do governo para o setor agrícola.

"Peço a Deus que ele não saia do ministério", disse Magalhães. "É um incansável lutador, não pode nos deixar e que fique no ministério para sempre", completou Lovatelli.

PREFERÊNCIA Rodrigues aproveitou a ocasião para criticar a suposta preferência do governo federal pela agricultura familiar. Rodrigues afirmou que "hoje a agricultura familiar é a mais privilegiada pelo nosso governo, tem um ministério que cuida só disso e os efeitos da crise agrícola foram muito mais fortemente direcionados em termos de ação do governo para a agricultura familiar do que para a empresarial".

Na opinião do ministro, o esforço que se faz hoje é para atender a agricultura familiar, "não apenas na área privada, como a Agrishow está fazendo, mas posições de governo, sobretudo no MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário".

Os agricultores familiares foram beneficiados, na sexta-feira, com a liberação de metade dos R$ 204 milhões para a comercialização por meio de Aquisições do Governo Federal (AGFs). Durante a cerimônia de abertura da Agrishow, Roberto Rodrigues reafirmou que todos os fatores que causaram a crise agrícola, como câmbio, juros altos, falta de recursos e de logística, além das invasões de terra. "Mas a crise é conosco e estamos elaborando uma política de longo prazo com medidas estruturantes para superá-la".

O ministro prometeu que irá anunciar o plano de safra 2006 até o dia 25, com "mais dinheiro mais barato, menos tributos e com medidas para o seguro rural e o biodiesel da soja". Mas não detalhou as medidas, disse que elas estão sendo discutidas 24 horas por dia pelos Ministérios da Agricultura, Casa Civil e Fazenda e que poderá anunciá-las antes do prazo previsto.

Rodrigues garantiu ainda que vai reiterar ao presidente Lula os problemas do setor produtivo durante encontro que ambos terão com governadores em Brasília, amanhã. "Já conversei com o presidente, expus a situação e ele próprio solicitou essa ação conjunta entre os ministérios."

SUGESTÕES Principal feira de agronegócios da América Latina, a Agrishow Ribeirão Preto teve cerimônia de abertura marcada por críticas à falta de solução do governo para a crise agrícola e por sugestões de mudanças na estrutura do Executivo.

Carlo Lovatelli, da Abag, disse que o governo federal "deve ser mais pró-ativo e ter mais sensibilidade" com a crise na agricultura brasileira. Ele confirmou que vai acompanhar os agricultores na manifestação de hoje, em Brasília: "A crise é verdadeira, não é mais uma reivindicação de 'pidões'", garantiu.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton Mello, pediu a revogação da medida provisória que isentou de Imposto de Renda os investimentos estrangeiros em dólar feitos no País, que, segundo ele, foram especulativos e ajudaram a desvalorizar o dólar. Ele acha também que investimentos de curto prazo, feitos em moeda estrangeira, devem voltar a ser taxados com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Sérgio Magalhães, presidente do Sistema Agrishow, criticou a política cambial e disse que "a taxa de câmbio no Brasil é eleitoreira e deve permanecer assim até as eleições em outubro", numa referência indireta à estratégia do governo de segurar a inflação por meio de juros altos, o que sobrevaloriza o real.

A Agrishow segue até sábado, em Ribeirão Preto, com cerca de 700 expositores. A feira deve receber 150 mil visitantes e movimentar cerca de R$ 700 milhões, mesmo volume do ano passado.