Título: 'Governo Evo cai em 3 meses se quebrar contrato'
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2006, Economia & Negócios, p. B5

Para Sauer, diretor da Petrobrás, cortes na oferta de gás ameaçam abastecimento de combustíveis no país

O diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer, disse ontem que a Bolívia é mais dependente do Brasil na questão do gás, e não o contrário, como costuma dizer o governo boliviano. "Se houver a interrupção (nas exportações de gás), ou seja, se a Bolívia quebrar o contrato com o Brasil, o país fica sem óleo e sem receita e o povo não quer isso... o governo cai em três meses", afirmou, lembrando que o petróleo usado na Bolívia é extraído com o gás. Ou seja, cortes na produção de gás criam risco de desabastecimento de combustíveis no país.

Sauer destacou que o decreto de estatização das reservas bolivianas de gás tem como único objetivo elevar as receitas do país. Ele disse que, com a nova carga tributária, que elevou para 82% os impostos sobre a produção de gás, a arrecadação com a produção do combustível este ano deve chegar a US$ 700 milhões. Entre 1999 e 2005, a Bolívia arrecadou US$ 575 milhões com o gás natural.

"Hoje temos condições de substituir todo o gás que importamos por combustíveis alternativos, como o diesel ou o GNL (gás natural liquefeito), mas na Bolívia, se houver uma interrupção no fornecimento para o Brasil, haverá o caos," concluiu. A Petrobrás, porém, não trabalha com a possibilidade de corte no fornecimento de gás boliviano. Mesmo assim, estuda alternativas para reduzir a dependência, como as importações de GNL e o gasoduto ligando Venezuela à Argentina.

"Muitos chamam o gasoduto (da Venezuela) de transpinel porque não sabem do que estão falando. A maior segurança não é o completo isolamento." Para Sauer, se a tubulação, capaz de transportar 150 milhões de m3 por dia, estivesse funcionando, "nem cócegas a situação da Bolívia faria no Brasil".

"Assim como no sistema elétrico se promoveu a interconexão que aumentou a confiabilidade nos recursos energéticos do País, a Europa vem promovendo ao longo dos últimos 30 anos construção de gasodutos interligando o norte da África, Sibéria, Inglaterra, enfim, toda a Europa."

Ele disse ainda que a estatal estuda a possibilidade de instalar no País três unidades de regaseificação para processar o GNL a ser importado por navios para abastecer as termoelétricas.