Título: Furlan: 'Abertura dói, mas logo passa'
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para ministro, a liberalização da economia cria mais oportunidades

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem que o País precisa avançar na abertura econômica, o que cria oportunidades e empregos, apesar de produzir "alguma dor, como a muscular, que logo depois desaparece". Ele alertou também que o País deve investir em inovação, sob o risco de voltar ao "período colonial", marcado por exportações de matérias-primas. A análise foi feita durante a abertura do 18º Fórum Nacional, no Rio.

Embora não tenha detalhado o assunto em seu discurso, a abertura é uma das exigências dos países desenvolvidos nas mesas de negociação. Ao ouvir as declarações do ministro, um empresário, que pediu para não ser identificado, comentou que soou como se o governo estivesse preparando terreno para a concessão tarifária na Organização Mundial do Comércio (OMC) no futuro, o que as empresas aceitam, diz a fonte, mas desde que negociado.

"Não é apenas uma dor muscular, ela deixa cicatriz", disse o executivo, ao citar que, no início dos anos de 1990, a abertura levou a um forte processo de enxugamento de custos. Segundo Furlan, o Brasil pode crescer 5% ao ano, mas precisa adotar as "melhores práticas", compatíveis com o século 21. O ministro defendeu ainda a redução da burocracia em geral, principalmente no câmbio, e a possibilidade de empresas abrirem contas correntes em dólar no País, além de estímulos ao investimento.

De acordo com Furlan, o primeiro grupo de produtos na pauta de exportação é formado por veículos e aeronaves, enquanto o café não figura sequer na lista dos 12 produtos mais exportados. Ele explica que o Brasil já é grande exportador de commodities, apesar de deficiências na infra-estrutura, mas destacou a necessidade de incorporar inovações. "Sem isso, poderemos viver novo período colonial", declarou o ministro.

TOM POLÍTICO Em discurso surpreendentemente duro e de forte tom político, o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, presidente do Instituto Nacional de Altos Estudos - que foi o promotor do fórum -, incentivou os cidadãos a não reelegerem parlamentares envolvidos com o recebimento do mensalão e que têm sido absolvidos na Câmara dos Deputados. No pronunciamento, chamado 'Mensagem aos Brasileiros de Boa Fé', Reis Velloso quebrou a tradição de falar de economia.

"Vamos, por exemplo, cassar o mandato, nas próximas eleições, dos congressistas que foram salvos da cassação pela pizza que está sendo feita. Mas muito mais: vamos também monitorar a ação dos três poderes e dos partidos e, vamos agir por meio das entidades de classe, lideranças políticas de boa fé, brasileiros de boa fé dentro dos governos, lideranças empresariais e sindicais, das organizações não-governamentais. E, se necessário, por meio de manifestações de rua. De todos os caminhos não violentos e permitidos por lei", disse o ex-ministro, sob aplausos.

Reis Velloso também condenou a "a barbárie na segurança pública, causada por um "poder paralelo". "Não tolerar o intolerável na política - o circo de horrores a que temos assistido e a pizza inaceitável", acrescentou.