Título: Unicamp é a campeã das patentes
Autor: Emílio Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2006, Vida&, p. A13

Universidade de Campinas superou pela 1.ª vez a Petrobrás em lista do Instituto Nacional de Propriedade Industrial

A Petrobrás perdeu a liderança do ranking de pedidos de patentes feitos ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Desde a década de 1970 e das sucessivas crises do petróleo, a estatal passou a investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, se tornando a maior depositante de patentes.

Na avaliação atual, a empresa foi ultrapassada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que ocupava a segunda posição. A universidade fez 191 pedidos entre 1999 e 2003. A Petrobrás fez 171 no mesmo período.

Na lista de inovações produzidas na Unicamp estão pedidos de patentes de um sistema de nanopartículas utilizado para o combate de células cancerígenas sem atingir as células sadias, produtos como o plástico biodegradável feito de amido de milho, desenvolvido na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), e o feijão integral instantâneo, idealizado na Incubadora de Empresas da Unicamp (Incamp).

Entre as 20 primeiras colocações destacam-se também outras instituições de ensino e pesquisa. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ocupa o 10º lugar e a Universidade de São Paulo (USP) está em 13º.

A primeira empresa privada a aparecer no ranking é a Arno, fabricante de eletrodomésticos. Ela é a terceira colocada na classificação geral, com 148 pedidos. A gaúcha Semeato, especializada na produção de implementos agrícolas, é a novidade na lista. Com 100 pedidos feitos, é a empresa privada de capital nacional que mais deposita patentes no INPI.

FALTA DE INICIATIVA O fato de o primeiro lugar ser ocupado por uma universidade revela mais que empenho e alto nível das pesquisas na Unicamp. O que é motivo de orgulho para a instituição mostra também o fraco desempenho das empresas privadas nacionais no desenvolvimento de projetos que resultam em patentes obtidas no Brasil e no exterior.

O desempenho chama a atenção da diretora de articulação do INPI, Maria Beatriz Amorim Páscoa. "Isso retrata um sistema de inovações ainda imaturo no Brasil", diz. "Faltaram políticas ao longo dos anos para estimular as atividades de pesquisa e desenvolvimento nas empresas."

Em países como os EUA, essa realidade é diferente. A Universidade da Califórnia, primeira instituição de ensino entre as maiores inovadoras do país, aparece apenas em 44º lugar no ranking. Se a comparação com os EUA parece exagerada, o desempenho das empresas brasileiras é frágil quando comparado a países como Coréia do Sul, China e Índia.

Em 2003, a Coréia do Sul obteve 4.132 patentes nos EUA, a China 424, a Índia 355, e o Brasil apenas 180. Enquanto 83% de nossos mestres e doutores estão nas universidades, esse número não passa de 39% na Coréia do Sul. "Nossa participação na produção científica mundial cresceu muito, mas na área tecnológica temos muito a avançar", avalia Maria Beatriz.

Para o diretor científico da Fapesp, Henrique Brito Cruz, apesar de as universidades brasileiras estarem em condições de competir com outras de qualquer lugar do mundo, ainda falta estímulo à pesquisa no Brasil. "Nós temos infra-estrutura acadêmica competitiva, o que falta são condições para que as empresas também invistam."

INOVA Parte de uma política de estímulo à inovação e de defesa da propriedade intelectual, a Unicamp criou em 2003 a Agência de Inovação (Inova). Seu diretor, Roberto Lotufo, avalia que desde então o número de patentes depositadas pela agência já ultrapassou o dobro do revelado pelo relatório do INPI. "Fizemos 66 depósitos somente em 2005. No entanto, a Inova não se destaca por isso, mas pelo número de contratos de licenciamento obtidos", diz. Após chegar ao mercado, parte dos lucros obtidos com o produto é revertida na forma de royalties para a instituição detentora do registro da patente.

PARCERIA Não por acaso os dois primeiros lugares da lista são ocupados pela Unicamp e Petrobrás. As duas mantêm uma relação de cooperação desde 1987, quando foi criado o Centro de Estudos do Petróleo (Cepetro). O laboratório auxilia o desenvolvimento e aplicação de pesquisas da estatal. "Do Cepetro já saíram mais de 250 mestres e doutores hoje na Petrobrás", diz Saul Suslick, diretor do centro de pesquisas.