Título: Governistas reagem a denúncias e tentam barrar depoimento de Dantas
Autor: Mariana Caetano, Luciana Nunes Leal, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2006, Nacional, p. A4

Virgílio insiste em levar banqueiro à CPI dos Bingos, mas Berzoini sugere ignorar acusação e promete iniciar processo

O PT montou ontem uma operação para barrar o depoimento do banqueiro Daniel Dantas, controlador do Opportunity, na CPI dos Bingos. Enquanto em Brasília o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), insistia em levar Dantas ao Congresso para confirmar se ele foi ou não alvo de uma tentativa de extorsão por parte do PT, a coordenação política do partido, reunida em São Paulo, ajustou o discurso para desqualificar as declarações do banqueiro. "Essa denúncia deve ser ignorada", resumiu o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Em entrevista à revista Veja, Dantas teria relatado que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pediu contribuição de US$ 40 milhões a US$ 50 milhões para ajudar o Grupo Opportunity a resolver dificuldades com o governo. O grande impasse, na época, era a briga com o Citibank e fundos de pensão pelo controle da Brasil Telecom. Em outra reportagem, a revista trouxe uma lista de supostas contas no exterior que seriam do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, entre outros políticos.

Ontem, após a reunião dos coordenadores, o PT avisou que pretende processar Dantas. O caso deve ser anexado à ação que o partido abriu contra a revista por reportagens sobre o escândalo do mensalão.

Enquanto não decide a reação judicial, a ordem no PT foi rebater as acusações. "Dantas tinha relações íntimas com o poder e com os dois partidos da coligação que elegeu Fernando Henrique Cardoso. Esse cidadão está mais uma vez insatisfeito porque não pode fazer no governo Lula as falcatruas que fez na administração do PSDB", atacou Berzoini.

"Em 1999, fui o primeiro a denunciar a influência nociva e imprópria de Dantas sobre a Previ no governo passado, quando houve a privatização das teles", insistiu Berzoini, frisando que não há razões para que o banqueiro preste um depoimento à CPI. "Por que ele não falou em achaque antes? Qual o objetivo de falar agora?"

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), informou que a bancada do partido deve se reunir hoje para tratar do assunto, mas adiantou que não vê razões para o depoimento. "O que o Dantas quer é posar como vítima, já que no dia 18, a corte de Nova York deve julgar processo do Citigroup contra ele."

Ideli acusou a oposição de tentar "tumultuar" o cenário político. "O caso já está onde deve estar, no Ministério Público."

REQUERIMENTO

Apesar da reação petista, os ânimos na oposição não arrefeceram. Virgílio apresentará hoje um requerimento à CPI dos Bingos para que Dantas seja convocado e já avisou que, se o pedido for negado, vai propor a abertura de uma nova CPI.

No requerimento, o líder do PSDB no Senado pede também a convocação da irmã de Dantas, Verônica, e de representantes do Citigroup.

"Dantas deve provar o que disse. Se provar, é preciso botar para fora o senhor Lula, como desonesto e chefe da quadrilha. Ou Dantas prova o que disse e Lula pára de desmoralizar o Brasil ou Dantas paga o preço da infâmia", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), defendendo a convocação.

Já o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator da CPI, posicionou-se contra a idéia. "Temos pouco tempo até a apresentação do relatório final, no fim deste mês. Não haverá tempo para exaurir a investigação."

Garibaldi fez questão de frisar que não entraria no mérito das novas denúncias, pois estava preocupado apenas em "encerrar os trabalhos como o prometido". ACM rebateu de pronto o argumento: "Compreendo, mas discordo. Se chegar a prova, Vossa Excelência terá um relatório ainda melhor."

Apesar da posição de Virgílio e de ACM, no PSDB e no PFL não há consenso sobre a ida do banqueiro à comissão de inquérito. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) sugeriu ouvi-lo na Comissão de Fiscalização Financeira ou na de Assuntos Econômicos. Para ele, o depoimento teria de ser sigiloso, pois o processo em Nova York corre em segredo de Justiça. O líder da minoria no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), também foi cauteloso quanto a um possível depoimento do banqueiro.