Título: 'BC ouve, mas toma decisões sozinho'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

Meirelles diz que não se sente pressionado a reduzir as taxas de juros a um ritmo mais agressivo

Apesar das críticas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à política macroeconômica e ritmo da queda de juros adotada pelo Banco Central, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, dá claras indicações de que não mudará sua forma de atuar. Meirelles diz que não se sente pressionado a baixar juros a um ritmo mais agressivo.

No fim de semana, Mantega afirmou que a sintonia entre BC e Fazenda dependia da manutenção do ritmo de queda dos juros. Para presidentes de BCs estrangeiros, Meirelles disse não se sentir confortável com Mantega. ¿É normal que pessoas, inclusive autoridades, se manifestem sobre o assunto (juros). O BC leva a sério todas as opiniões, mas toma e tomará suas decisões normalmente. O BC faz a análise técnica, analisa a todos os fatores prospectivos de inflação, conclui qual a política monetária mais adequada e toma suas decisões normalmente¿, disse Meirelles, que está na Suíça em eventos no Banco de Compensações Internacionais.

Meirelles não quis comentar se seu relacionamento com Mantega é diferente ao que tinha com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. ¿Não tenho mais nada a agregar além de que o relacionamento é bom, como Mantega disse. Falo com ele constantemente. Hoje (ontem) mesmo já falei.¿ Questionado se se sente pressionado pelos comentários do ministro, respondeu: ¿Pressionado por quê?¿ Mas Meirelles insinuou ontem que é ele quem tem o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pondo em cheque declarações de Mantega de que falava em nome do chefe de Estado quando criticava política de juros. Segundo o presidente do BC, as decisões sobre juros levam em conta ¿a delegação dada pelo presidente e as metas de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional¿.

Meirelles apontou que, ao elevar os juros a partir de setembro de 2004, o País só se antecipou a um movimento que hoje é seguido por muitos países para fazer frente à inflação. ¿Agora o Brasil começa a abaixar as taxas e os demais continuam subindo.¿

Para o presidente do BC, o País crescerá 4% em 2006 e defendeu a política de recomposição de reservas, iniciada em 2004. ¿Julgávamos que as reservas estavam baixas para que o País pudesse ter solidez e tranqüilidade para enfrentar mudanças na liquidez internacional.¿

`VISÃO MIDIÁTICA¿ O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que não há embate entre Mantega e Meirelles. ¿Não tem nada disso. Essa é uma visão mais midiática.¿Nos bastidores do governo, porém, não foi bem vista a forma como o ministro da Fazenda se referiu à sua relação com o BC. Mantega disse que o relacionamento iria bem enquanto os juros continuassem em queda. O tom pareceu um pouco exagerado a alguns integrantes do governo.