Título: Com greve, transporte de soja é paralisado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Economia & Negócios, p. B9

Trabalhadores querem o controle de terminal bimodal de Santa Cruz de la Sierra; ônibus também estão parados

Uma greve de trabalhadores do setor de transporte de Santa Cruz de la Sierra, que entrou ontem no 5º dia, manteve parado o tráfego de trens de passageiros e de carga na parte oriental da Bolívia. Os ônibus que fazem linhas internacionais e interestaduais também não funcionam.

Cerca de 300 trabalhadores estavam ontem acampados no Terminal Bimodal de Santa Cruz, um dos maiores do país. O sindicato dos trabalhadores avisou que poderia permitir hoje o funcionamento do terminal a partir das 12 horas.

O terminal garante a interligação do transporte ferroviário e rodoviário. De Santa Cruz sai a maior parte da produção de soja, que não começou a ser escoada para a fronteira com o Brasil por causa da greve.

Esse movimento de trabalhadores é peculiar. Os funcionários manifestam apoio à decisão do governo boliviano denacionalizar o terminal e querem a administração do negócio. A estrutura já estava sob intervenção federal desde outubro do ano passado.

O governo tenta tirar o controle da empresa Consalbo, que recebeu a concessão para administrar o terminal em março de 1995, na gestão do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada.

Os trabalhadores acusam a empresa de corrupção e de ter lesado o Estado quando, ao receber as receitas da movimentação de mais de 2,5 mil pessoas por dia no terminal, não tê-las repassado ao governo.

A onda nacionalista na Bolívia estimulou os trabalhadores a apoiar o governo e exigir o banimento da empresa e dos ex-controladores. Fotos dos ex-administradores estampadas em cartazes foram espalhados por todo o terminal com xingamentos e acusações de corruptos.

Uma disputa judicial sobre esse assunto tramita no Poder Constitucional, a Suprema Corte boliviana. A justiça está prestes a decidir se a empresa deve ou não voltar a controlar o terminal. Clive Menacho, gerente regional da Empresa Nacional de Ferrocarrillo (Enfe) - que na gestão Lozada fechou o acordo para concessão da estrutura -, afirma que há provas de corrupção na gestão do terminal e a justiça boliviana deveria definitivamente banir a antiga administradora.