Título: Para Meirelles, Bolívia não justifica alarme
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Economia & Negócios, p. B7

'É um fator como muitos outros de incerteza', diz presidente do BC

A decisão do governo da Bolívia de nacionalizar as reservas de gás e petróleo é alvo de preocupação dos diretores dos principais bancos centrais do mundo, com exceção do presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles. Ontem, na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Suíça, os xerifes das finanças internacionais debateram a medida tomada pelo governo de Evo Morales ao analisarem eventuais riscos para a economia mundial e disseram que La Paz pode ser mais uma fonte de volatilidade.

Meirelles preferiu minimizar os efeitos da decisão boliviana. "É um fator como muitos outros de incerteza. Mas existem riscos diversos no mundo. Do ponto de vista da economia global, há fatores de incerteza muito maiores, como o Irã", afirmou Meirelles.

O presidente do BC ainda opta por não comentar os impactos que a decisão teria sobre a inflação brasileira: "Ainda é prematuro avaliar os efeitos gerados pela Bolívia. Vamos aguardar. Isso vai depender de muita coisa, se haverá um aumento do preço do combustível, de quanto será o aumento, de qual será a postura da Petrobrás sobre isso. Enfim, do ponto de vista do BC, não temos informações suficientes para nos pronunciarmos".

Para Meirelles, o aumento do preço da energia seria apenas um dos fatores que influenciam a inflação. "No passado, houve momentos em que ocorreu um aumento dos preços de energia, mas ao mesmo tempo ocorreu uma apreciação da moeda. Isso de certa maneira equilibrou o processo. O BC não olha um só fator. No dia 30 de maio, na próxima reunião do Copom, olharemos tudo o que ocorreu no período e então tomaremos uma decisão", disse.

Os dez maiores bancos centrais do mundo realizam o encontro para avaliar a economia internacional a cada dois meses e convidam os principais países emergentes, entre eles o Brasil. Desta vez, a inflação esteve no centro do debate e os fatores considerados de risco.

"A economia mundial continua forte. Mas os preços do petróleo e das commodities estão em níveis muito elevados e exigem atenção especial de nossa parte. Não é o momento de ser complacente", afirmou Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu.