Título: Aumento no preço do gás só com novo contrato, diz Lula
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Economia & Negócios, p. B5

Em programa de rádio, presidente não explica quem arcará com essa alta

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu ontem, em seu programa semanal de rádio, que o preço do gás ao consumidor não vai subir nem haverá desabastecimento. Mas admitiu a possibilidade de a Bolívia receber mais pelo gás, sem especificar quem pagará a conta.

"De cinco em cinco anos, a Petrobrás tem que discutir e fazer o reparo no preço porque sempre será uma coisa que tem uma combinação", disse Lula. Ele não citou quando esse reajuste poderá ocorrer, mas assessores do Planalto especularam que o prazo é justamente este mês de maio.

No mesmo dia em que o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, declarou que levará à Bolívia a proposta de reajuste zero, Lula indicou que essa é só uma forma de negociar. "Qualquer brasileiro entende isso, ou seja, quando você vai vender um carro, pede um preço e o comprador lhe oferece outro. Você começa a barganhar e aí encontra um número."

O presidente explicou que será preciso encontrar um "denominador comum" entre os interesses do Brasil e da Bolívia. A negociação, porém, se dará de forma "civilizada", afirmou. "Não vamos fazer provocação. Não vamos fazer retaliação a um país que é infinitamente mais pobre que o Brasil, um povo mais faminto que o brasileiro, então, nós estamos tratando isso com carinho", disse Lula.

Lula defendeu a decisão da Bolívia de nacionalizar o gás, lembrando que isso já foi feito por Brasil, Chile, Argentina, Iraque, Irã, Líbia, México e Peru. "Todos os países querem ser donos da riqueza que está no seu subsolo e a Bolívia tem no gás sua única riqueza."

Ele aproveitou para atacar os seus críticos. "Eu sei que tem gente que gostaria que o Brasil fosse virulento. A nossa política é de paz, é de acordo e sensatez e eu acho que é isso que vai contribuir para o Brasil", disse.

Lula disse também que o Brasil buscará a auto-suficiência no gás. "O Brasil não pode ficar dependendo de nenhum país quando se trata de uma questão energética importante para o desenvolvimento", declarou. E disse já ter orientado o ministro de Minas e Energia e o presidente da Petrobrás para que trabalhem com esse objetivo. Em seguida, porém, Lula defendeu o megagasoduto entre a Venezuela e a Argentina, que atravessará o Brasil.

O problema de fornecimento de gás da Bolívia para o Brasil foi um dos temas da reunião de coordenação política de ontem, no Planalto, com Lula. No final, o porta-voz do presidente, André Singer, informou que "não haverá aumento do preço de gás para o consumidor, seja residencial ou empresarial, ou para donos de automóveis".

Singer disse, ainda, "que não haverá desabastecimento de gás e o governo trabalha para que, no médio prazo, o País não tenha mais dependência externa de gás, aumentando as fontes internas de produção".

Sobre as ameaças da Bolívia em aumentar o preço do gás em 61%, o porta-voz respondeu: "A Bolívia pode ter o desejo de fazer reajuste de preço, mas ele será negociado de tal forma que não creio que haja qualquer prejuízo para a Petrobrás". Indagado sobre quem absorveria o aumento, o porta-voz insistiu que "o ambiente é de negociação" e a partir de quarta-feira, com reuniões em La Paz, o processo de discussão será desencadeado, "sem que implique qualquer tipo de perda para a Petrobrás".