Título: Em SP, bolivianos já falam em voltar
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

Alguns dos 80 mil imigrantes da capital se animam com medidas de Evo Morales

Os bolivianos que moram em São Paulo - cerca de 80 mil - estão, aos poucos, tomando conhecimento do decreto que nacionalizou as reservas energéticas em seu país. A novidade da Feira da Cantuta, na praça do mesmo nome, no Canindé, onde os bolivianos se reúnem aos domingos na capital, eram os DVDs com o discurso de Evo Morales no 1º de Maio - exclusividade do comerciante Franklin Castro, que gravou o pronunciamento do presidente para vendê-lo aos imigrantes.

Mais movimentada que a banca de Castro, só as barraquinhas de saltenha, um salgado tradicional da Bolívia. Ninguém comprou o DVD, mas muitos pararam para assisti-lo. Castro está no Brasil há 15 anos e trabalha na Rádio Infinita, emissora pirata de São Paulo voltada para imigrantes latinos, principalmente os vindos da Bolívia. Desde o dia 1º, a nacionalização é um dos temas principais. "Foi um marco histórico de muita importância para nosso povo. Todos precisam saber o que aconteceu."

Castro é a favor do decreto que estatiza o petróleo e o gás bolivianos, mas garante que não expressa suas preferências políticas publicamente porque é um comunicador. Curiosamente, ele disse isso vestindo uma blusa colorida, como as que Evo costuma usar. Para o comerciante, o mundo passará a respeitar a Bolívia depois da nacionalização. A opinião parece unânime entre os imigrantes que acompanham as decisões bolivianas.

"Estamos todos confiantes", disse o secretário geral do partido de Evo (MAS) no Brasil, Jorge Merúvia. Depois de 20 anos no País, ele diz que agora está mais seguro em relação à Bolívia e pensa até em voltar para lá. "Nossa gente é muito pobre, mas a situação já está começando a melhorar", afirmou.

Outro integrante do MAS em São Paulo, o psicólogo Winder Flores Fuertes, diz que, depois da nacionalização, alguns imigrantes voltaram a cogitar a possibilidade de retornar para a Bolívia. "Se o país melhorar nâo tem por que ficar aqui". Para ele, o governo da Bolívia foi coerente com os compromissos que assumiu com a população durante a campanha eleitoral.