Título: Estudo liga gene a câncer de próstata
Autor: Nicholas Wade
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Vida&, p. A17

Variante no cromossomo 8, presente em 13% dos homens de origem européia, aumenta risco da doença em 60%

Uma equipe de cientistas anunciou ter detectado um gene variante associado ao câncer de próstata, numa descoberta que pode ajudar os médicos a decidir quais pacientes são os melhores candidatos a um tratamento agressivo.

A descoberta da DeCode Genetics, companhia de identificação de genes com sede na Islândia, também pode ajudar a explicar por que determinadas populações apresentam maior incidência da doença.

O câncer de próstata é uma doença comum com muitas causas, tanto genéticas quanto ambientais. A detecção dos genes envolvidos é difícil, pois cada um parece exercer apenas um pequeno efeito sobre o risco de desenvolvimento da doença. Vários genes potencialmente envolvidos já foram identificados numa família ou população, mas em geral não foram confirmados por pesquisadores que tentaram reproduzir a identificação em outros grupos.

A nova variante, descrita no site da Nature Genetics, foi encontrada pela primeira vez em islandeses e depois detectada na Suécia e em duas populações nos Estados Unidos. David Altshuler, médico geneticista do Instituto Broad, em Cambridge, no Estado americano de Massachusetts, afirmou que o resultado foi estatisticamente convincente, por ter sido testado em quatro populações.

A variante está presente em cerca de 13% dos homens de origem européia. Ela aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de próstata em 60% em relação aos homens que não têm o gene e responde por cerca de 8% de todos os casos, segundo os cientistas, liderados por Laufey T. Amundadottir, da DeCode.

Entre os afro-americanos, por exemplo, a variante representa o mesmo risco, mas é duas vezes mais comum. Isso poderia explicar "uma parte significativa" do motivo de o câncer de próstata ser mais comum nessa população, afirmou Kári Stefánsson, presidente da DeCode.

Stefánsson explica que a variante é "o primeiro gene importante ligado ao câncer de próstata e o primeiro a ser repetido em várias populações".

William B. Isaacs, especialista em câncer de próstata da Universidade Johns Hopkins, qualificou a descoberta de "empolgante" e acrescentou que, até agora, "não havia nenhum exemplo claro de genes identificados por um grupo e reproduzidos em várias populações".

FORMA MALIGNA DA DOENÇA A nova variante não é especialmente comum entre os islandeses com aumento benigno do volume da próstata, a chamada hiperplasia prostática benigna, o que indica que ela se associa apenas a formas malignas da doença. Segundo Stefánsson, isso pode explicar por que os afro-americanos morrem da doença com mais freqüência, além de apresentar uma incidência mais alta que os brancos americanos, por exemplo.

A companhia planeja desenvolver um diagnóstico baseado na nova variante para ajudar os médicos a decidir o grau de agressividade do tratamento da doença, especialmente entre os homens com mais de 70 anos, supondo que aqueles que têm a variante são mais propensos a desenvolver câncer grave.

Muitos homens nessa faixa etária têm outros problemas, disse Isaacs, e morrem de outras causas. Nesses casos, é melhor não tratar o câncer de próstata. Mas em alguns pacientes o câncer é maligno e, se esse desfecho puder ser previsto, o tratamento agressivo, como a radioterapia ou a remoção da próstata, pode valer mais a pena.

Isaacs e Altshuler afirmaram que a idéia de um diagnóstico é razoável, mas são necessários mais estudos para mostrar se a informação teria uso clínico prático.

A nova variante está situada no cromossomo 8. Até agora, nenhum gene do tipo fora reconhecido nesse trecho do DNA.