Título: Vídeo mostra que invasão do MLST foi premeditada
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Nacional, p. A4

Um vídeo gravado em DVD apreendido ontem pela Polícia Legislativa do Congresso não deixa dúvidas: a invasão da Câmara pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) na terça-feira foi cuidadosamente planejada e premeditada. As imagens em poder dos investigadores sugerem táticas de guerrilha. No vídeo amador, feito pelo próprio MLST, líderes do movimento referem-se ao Salão Verde da Câmara como salão de "baile" e de "festa". Os militantes tratam a ocupação da Câmara como "a festa", usando senhas próprias dos movimentos clandestinos.

As três entradas principais da Câmara foram filmadas pelos ativistas e um líder do grupo passou 15 dias no Congresso, estudando acessos, corredores e salões. O plano apresentado em palestras aos sem-terra previa até como começaria a confusão: duas mulheres se aproximariam da porta do prédio conhecido como Anexo 2 e provocariam uma discussão com os cinco seguranças que costumam ficar por lá. Nesse momento, cerca de 20 militantes infiltrados no edifício iniciariam o quebra-quebra. Foi exatamente o que aconteceu.

Em nenhum momento da uma hora e vinte minutos de gravação, os militantes do MLST se mostram preocupados com retaliações ou prisão pela invasão de prédio público. Ao contrário: chegam a dizer que, uma vez dentro da Câmara, só sairiam quando e como quisessem. Bruno Maranhão, coordenador do movimento e da invasão ao Congresso, não aparece no vídeo, que será usado como prova no inquérito contra os cerca de 500 manifestantes que invadiram e depredaram dependências da Câmara.

Nas duas reuniões preparatórias que antecederam a invasão, Antonio José Arruti Baqueiro, um dos líderes do MLST, dá o tom da ocupação. "Vamos dizer para o Brasil que tipo de reforma agrária queremos. Vamos dizer o que essa corja do PFL e do PSDB está fazendo nesse Congresso, quando deixou de votar o Orçamento da União achando que estava prejudicando o Lula. E o Lula continua aí tranqüilo, com 63%", diz Arruti para uma platéia de cerca de 50 militantes.

As gravações das reuniões de dirigentes do MLST com o detalhamento dos planos de invasão foram feitas na segunda-feira. Os líderes do movimento evitam falar em "ocupação" ou "invasão" - usam códigos. Na primeira reunião, pela manhã, no auditório da Contag, em Brasília, os militantes ouvem de Arruti as instruções de como entrar na Câmara e passar pela segurança, sem chamar a atenção. O líder alerta que o grupo tem de ir bem vestido e de terno. No vídeo, Arruti destaca que os militantes que vão participar da invasão da Câmara foram escolhidos a dedo nos Estados. "São companheiros que têm capacidade para fazer essa tarefa. O importante é que sintam que somos organizados e um movimento que sabe o que quer, que tem coragem de ir lá e dar o recado."

No vídeo, os líderes detalham a ocupação. "Os ônibus vão sair do Parque da Cidade, dar uma volta de 1 hora para não chamar a atenção. Quatro ônibus vão para o Congresso e desceremos a pé como turistas. Um grupo de 20 pessoas vai ficar na porta em torno da guarita", diz um dos líderes. "O alvo principal é o Salão Verde, ali onde tem aqueles sofás bonitos. Ali vamos fazer nossa atividade. Só o comando poderá mudar" .