Título: Lula pede punição, mas não cita líder petista
Autor: João Domingos e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Nacional, p. A6

Com um olho no desgaste político provocado pela participação do dirigente petista Bruno Maranhão no quebra-quebra e em atos de violência na Câmara dos Deputados, anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apressou-se ontem a condenar o vandalismo praticado pelos integrantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST).

Assessores do Palácio do Planalto informaram que Lula estuda a possibilidade de convocar cadeia nacional de rádio e televisão para condenar a violência contra a Câmara.

Lula aproveitou cerimônia da qual participaram mais de uma centena de representantes do meio artístico para dizer que os sem-terra pagarão pelo que fizeram. "O que vimos não foi um movimento de democracia, mas uma cena de vandalismo. As pessoas perderam o limite de responsabilidade no trato da coisa pública, os limites impostos pela democracia", disse Lula. Foi aplaudido.

"Muitos de vocês que acompanham a minha vida sabem que eu nasci do movimento social. Eu fiz as greves que tinham que ser feitas neste país", disse o presidente. Em seguida, afirmou que fez passeatas para conquistar a democracia.

"Fizemos as caminhadas que imaginávamos que eram necessárias ser feitas, vim a Brasília fazer passeata, caminhada, comício, na frente do Congresso Nacional, cobrar de deputado, mas na minha cabeça sempre permeou a certeza de que a democracia também nos impõe limite de responsabilidade e nos impõe o limite das coisas que podemos ou não fazer", disse Lula.

Para Lula, as pessoas podem até não gostar do Congresso Nacional, mas lembrou que na época em que o Parlamento esteve fechado, durante o regime militar, a situação era pior.

Lula relatou aos presentes à cerimônia de assinatura do projeto de lei sobre o Fundo Setorial do Audiovisual (FNC) que no próprio gabinete da Presidência fez acordos, na semana passada, com trabalhadores rurais. Disse ainda que no Palácio do Planalto entrou uma quantidade de gente que jamais tinha imaginado colocar o pé na Presidência.

"Aqui já entrou sem-teto, sem-terra, todo tipo de movimento que vocês possam imaginar. Nunca criamos dificuldades para que os movimentos pudessem entregar as reivindicações e reclamar", afirmou. "E vamos continuar agindo assim. Afinal de contas, foi para isso que ganhei as eleições, garantindo que parte da sociedade que não tem acesso ao poder político, possa ter." "Quem praticou vandalismo pagará pelo vandalismo e quem praticou democracia será beneficiado pela democracia que estamos construindo", afirmou o presidente.

Em nenhum momento do discurso Lula citou o nome de Bruno Maranhão, responsável pela invasão da Câmara, ontem. Ao deixar a cerimônia, foi questionado por um jornalista sobre a participação de Maranhão no quebra-quebra. Ele respondeu rapidamente: "Deixa isso para o PT resolver, gente."