Título: Militar é nomeado para chefiar CIA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Internacional, p. A16

Indicação do brigadeiro Michael Hayden pelo presidente Bush é criticada até por parlamentares republicanos

O presidente americano, George W. Bush, nomeou ontem Michael Hayden para dirigir a Agência Central de Inteligência (CIA). Brigadeiro da ativa, de 61 anos, Hayden é hoje o braço direito de John Negroponte, diretor de um organismo de inteligência nacional que coordena as 16 agências de informação e segurança do país, incluindo a CIA. Hayden substituirá Porter Goss, que se demitiu na sexta-feira.

A nomeação de Hayden foi criticada até mesmo por legisladores do Partido Republicano, de Bush - cuja popularidade chegou ontem ao nível mais baixo: 31%. O brigadeiro tem sido vinculado a um controvertido programa de escuta doméstica. Os políticos republicanos também expressaram preocupação com o fato de um militar ocupar o mais alto posto de um órgão de inteligência civil.

Numa possível antecipação das dificuldades que Hayden deve enfrentar para que a nomeação seja confirmada no Senado, vários republicanos, entre eles alguns com estreitos laços com a Casa Branca, disseram que Bush deveria procurar outra pessoa para administrar a agência.

"Acredito que ele seja a pessoa errada, no lugar errado e na hora errada", disse o deputado Peter Hoekstra, republicano de Michigan e presidente da Comissão de Informações da Câmara ao programa de televisão Fox News Sunday. "Não deveríamos ter um militar chefiando um órgão civil neste momento", acrescentou Hoekstra.

A CIA já foi comandada por militares várias vezes, mas Hoekstra disse que seria um engano indicar Hayden quando o órgão está tentando deter os esforços por parte do Pentágono de expandir as próprias operações de espionagem.

Alguns disseram temer que, com um militar no comando da agência, isso venha permitir ao Pentágono exercer mais controle sobre as operações de coleta de informações nos EUA.

Como o responsável pela confirmação do indicado pelo presidente é o Senado e não a Câmara, Hoekstra não vai participar diretamente do debate sobre a indicação de Hayden para chefiar a CIA. As datas das audiências de confirmação, que serão em sessões tanto abertas quanto fechadas, ainda não foram anunciadas.

Nenhum dos membros do Legislativo que apareceram nos programas políticos de domingo na TV ou foram entrevistados separadamente disse diretamente que votará contra a nomeação de Hayden. Mas os comentários de Hoekstra, assim como sinais enviados por importantes senadores republicanos, incluindo Pat Roberts, republicano do Kansas e presidente do conselho da Comissão de Informações, sugerem que o brigadeiro não deverá ter um caminho fácil para a confirmação.

A candidatura de Hayden quase certamente vai ressuscitar a controvérsia que cerca o programa de escuta doméstico na Agência Nacional de Segurança, da qual ele já foi chefe.

Críticos desse programa, incluindo o senador Arlen Specter, republicano da Pensilvânia, presidente da Comissão de Justiça, talvez tentem usar a indicação de Hayden para obrigar a Casa Branca a fornecer mais informações sobre o tema.