Título: Blair nega-se a fixar data para sair
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Internacional, p. A15

E adverte os rebeldes trabalhistas: marcar um prazo para deixar o poder paralisaria o governo e prejudicaria o país

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, negou-se ontem categoricamente a fixar uma data para deixar o cargo, durante entrevista à imprensa na residência oficial de Downing Street, 10. Ao contrário, até lançou uma advertência aos trabalhistas que exigem a saída dele: "Isso (a fixação da data) paralisaria o governo e prejudicaria o país." Mas Blair fez uma ressalva: não quer permanecer eternamente no poder "como desejava Margareth Thatcher (ex-primeira-ministra conservadora)". Ele disse que passará o cargo ao sucessor na hora certa, quando a transição estiver completa.

A pressão para que Blair renuncie aumentou consideravelmente depois da humilhante derrota dos trabalhistas para a oposição conservadora e liberal-democrata nas eleições municipais do dia 4 na Inglaterra. Cinqüenta deputados trabalhistas, a maioria da ala esquerda do partido, assinaram uma carta exigindo uma definição do primeiro-ministro.

Blair classificou esses colegas de rebeldes, afirmando que eles pretendem mudar radicalmente as diretrizes políticas introduzidas por ele no Partido Trabalhista e conhecidas como Novo Trabalhismo. O primeiro-ministro lembrou que essa reforma levou os trabalhistas ao poder em 1997. "Eles (os rebeldes) querem reverter a reforma", acusou Blair, e alertou: "Se isso ocorrer, o Partido Trabalhista estará condenado a ser apenas um partido de oposição."

Blair recordou ainda que, quando obteve do povo um terceiro mandato, ressaltou que seria o último. Ele insistiu em que dará a seu sucessor o tempo necessário para firmar-se no poder. E assegurou que Gordon Brown, ministro da Economia, continua sendo seu candidato.

A derrota eleitoral levou Blair a fazer profunda reestruturação em seu gabinete, a fim de dar novo ânimo ao governo e restaurar a própria autoridade.