Título: Crise econômica palestina supera projeções
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Internacional, p. A14

Se quarteto de mediadores não chegar a acordo hoje, União Européia pode criar sozinha fundo de ajuda

A derrocada econômica palestina está se tornando mais alarmante do que o previsto inicialmente e é capaz de provocar uma crise humanitária, aumentar a violência e levar a Autoridade Palestina (AP) ao colapso, segundo um relatório do Banco Mundial, antecipado pela agência Associated Press.

O quadro se agravou depois da vitória, nas eleições parlamentares de janeiro, do grupo islâmico Hamas, que se recusa a abandonar a luta armada e reconhecer a existência de Israel. Em represália, as potências ocidentais cortaram centenas de milhões de dólares de ajuda aos palestinos e Israel suspendeu a transferência de cerca de US$ 60 milhões mensais, referentes a taxas cobradas dos produtos importados pelos palestinos.

Em março, o Banco Mundial havia previsto que a renda média dos palestinos iria cair cerca de 30% e o desemprego subiria de 23% para 40%, aumentando a proporção de pessoas vivendo a baixo da linha de pobreza - passariam de 44% a 67% dos 3,5 milhões de habitantes da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.

Num relatório que será enviado ao quarteto de mediadores para a região (EUA, Rússia, União Européia e ONU), o Banco Mundial concluiu que essas projeções foram comedidas. Isto porque as doações internacionais caíram muito mais do que o previsto e Israel aumentou os bloqueios ao movimento dos palesti nos e de mercadorias nos territórios ocupados. O quarteto se reúne hoje, em Nova York.

AJUDA EUROPÉIA

A União Européia (UE) se prepara para agir sozinha e canalizar fundos de emergência aos palestinos se fracassarem as negociações no quarteto sobre a criação de um mecanismo internacional para aliviar as dificuldades financeiras da população, indicaram autoridades européias, segundo o diário britânico The Guardian.

A pressão para um rápido acordo sobre o fornecimento de alimentos e outras ajudas diretamente aos palestinos, além de dinheiro para pagar os salários de trabalhadores da saúde e professores, se intensificou depois que no fim de semana o primeiro-ministro Ismail Haniye reiterou a posição do Hamas (de não ceder à pressão) numa reunião com o presidente palestino, Mahmud Abbas.

Os EUA e a UE suspenderam o financiamento direto ao governo no começo de abril, deixando 165 mil funcionários públicos sem salários. Segundo um documento da UE, a crise poderia se aprofundar, levando a "níveis de pobreza e desemprego muito maiores, e à possibilidade de ruptura da lei e da ordem." O quarteto discutirá os planos da Grã-Bretanha e França para a criação de um mecanismo internacional que contorne tanto o Hamas como o presidente Abbas, e forneça recursos e ajuda via organismos como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a própria ONU. Em um relatório, o governo britânico destaca que isso ajudaria a minar o Hamas, e não a fortalecê-lo. Mas os EUA resistem à idéia.

A comissária européia de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, confirmou que a UE - que fornecia a metade da ajuda à AP, ou 500 milhões por ano - pretende liberar 34 milhões em ajuda, mas algumas autoridades sugeriram que a UE poderia desbloquear outros recursos se as negociações do quarteto fracassassem.