Título: Presidente iraniano escreve a Bush
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Internacional, p. A14

Ahmedinejad teria proposto idéias para diminuir tensões. Para Rice, documento não abre brecha diplomática

O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, enviou ontem uma carta a seu arquiinimigo, o presidente dos EUA, George W. Bush, com "propostas para resolver o problema", segundo o porta-voz do iraniano. O envio ocorreu poucas horas antes de uma importante reunião de membros do Conselho de Segurança da ONU sobre a crise nuclear iraniana.

"Ahmadinejad, em sua carta, falou da atual situação de tensão no mundo e sugeriu meios de resolver problemas e aliviar as tensões", informou o porta-voz Gholamhossein Elham, sem dar detalhes sobre o conteúdo. Elham acrescentou que Ahmadinejad escreveu para outros líderes "de certos países".

Foi a primeira carta de um chefe de Estado iraniano a um líder dos EUA desde o rompimento de relações diplomáticas entre os dois países, depois da Revolução Islâmica (1979), quando a embaixada americana foi ocupada e seu corpo diplomático feito refém. Ou pelo menos foi a primeira tornada pública. O Irã enviou a carta por intermédio da Embaixada da Suíça em Teerã, que representa os interesses dos EUA no Irã.

A secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, fez pouco caso da correspondência, dizendo que continha 17 ou 18 páginas tratando de filosofia, história e religião. Não abria uma brecha diplomática, disse ela. "Esta carta não é o lugar em que se poderia encontrar uma abertura para discutir a questão nuclear ou algo parecido. Ela não trata, de uma maneira concreta, das questões com as quais estamos lidando", afirmou Condoleezza.

Funcionários americanos disseram que a carta pode ter sido uma tentativa de Ahmadinejad de influenciar o debate no Conselho de Segurança. Isto porque ontem chanceleres dos EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Rússia e China estavam reunidos em Nova York para definir uma posição comum sobre uma resolução para pressionar o Irã a suspender seu programa de enriquecimento de urânio. Esses países, com exceção da Alemanha, têm poder de veto no Conselho.

A pressão internacional começou no âmbito da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - agência da ONU - , depois de constatado, em 2003, que o Irã ocultava instalações nucleares, contrariando seu compromisso de informar todas as suas atividades. Surgiram suspeitas de que o país possua um plano secreto para fabricar armas nucleares, rompendo seu compromisso com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). O Irã garante que seu objetivo é apenas produzir eletricidade.

Na semana passada, britânicos e franceses apresentaram uma resolução, de caráter obrigatório, que prevê sanções contra o Irã, se não interromper a produção de urânio enriquecido. No documento, a exigência para que o Irã cumpra a determinação do Conselho é apresentada com base no Capítulo 7 da Carta da ONU, que prevê penalidades ou ações militares. China e Rússia, no entanto, se opõem à qualquer referência que abra caminho a sanções ou ação militar.

Desde o mês passado,quando Ahmadinejad anunciou que o Irã havia iniciado o processo de enriquecimento de urânio, o governo iraniano tem expressado quase que diariamente seu direito e determinação de buscar o domínio de todas as etapas do ciclo nuclear. No domingo, o governo iraniano ameaçou deixar o TNP se os direitos do país não forem respeitados.