Título: MP consegue intimar Dirceu para depor hoje
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Nacional, p. A10

Petista será questionado sobre corrupção na prefeitura

Agentes do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) - braço do Ministério Público Estadual que investiga desvios e fraudes na administração - localizaram domingo em São Paulo o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT), a quem apresentaram notificação para que preste depoimento hoje no procedimento sobre o suposto esquema de corrupção no governo Celso Daniel, prefeito de Santo André seqüestrado e morto a tiros em janeiro de 2002.

Dirceu foi encontrado na sede de um diretório do PT, durante a prévia para escolha do candidato do partido ao governo do Estado. Mesmo sem saída, ele se recusou a assinar a intimação, alegando que já havia recebido outra, dois dias antes, em sua residência na capital.

"Ele demonstrou que tinha ciência da data marcada anteriormente", disse o promotor José Reynaldo Guimarães Carneiro. "Deliberamos no Gaeco que era necessário tentar notificá-lo durante a reunião do partido porque tínhamos a informação de que dificilmente ele vai ao endereço para onde havia sido enviada a primeira notificação." Segundo o promotor, Dirceu "foi extremamente educado".

O ex-ministro alegou que tem outros compromissos marcados para o horário da intimação. Os promotores que o investigam suspeitam que Dirceu quer ganhar tempo até que o Supremo Tribunal Federal (STF)decida sobre a reclamação que ele apresentou há duas semanas à instância máxima da Justiça. Por meio desse recurso, o ex-ministro argumenta que o próprio STF, em 2002, já mandou arquivar pedido de investigação envolvendo seu nome.

CAMPANHAS

O Ministério Público insiste em ouvir Dirceu porque suspeita de que o PT teria sido o destinatário de parte de recursos desviados do Tesouro de Santo André. A revelação foi feita pelo médico João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel. Ele afirmou aos promotores, à Justiça e à CPI dos Bingos que, uma semana depois do assassinato de seu irmão, ouviu de Gilberto Carvalho - secretário particular do presidente Lula - que o dinheiro era reservado ao financiamento de campanhas do PT.

Na época, Dirceu era presidente do partido. Ele nega ter participado do esquema. Há quase 4 anos, o Ministério Público fez uma primeira investida para apurar os fatos, mas, por decisão do então ministro Nelson Jobim, que integrava o STF, trancou o pedido de investigação sobre Dirceu. Jobim argumentou que não podia autorizar o inquérito com base em "ouvir dizer".

Para os promotores, "fatos novos" surgiram nos últimos meses, justificando a intimação para Dirceu se explicar. Eles se baseiam nos resultados da investigação sobre o mensalão que levaram o chefe do Ministério Público Federal, procurador Antonio de Souza, a pedir abertura de processo criminal contra 40 políticos e empresários.

Dirceu é apontado como o chefe de "organização criminosa". "Temos provas muito mais substanciosas de que havia uma corrupção sistemática comandada por José Dirceu", sustenta o promotor Amaro Thomé Filho. "Ele (Dirceu) é réu no processo do valerioduto, isso indica que a investigação de Santo André sempre foi necessária e oportuna. Esperamos que ele cumpra com o dever de cidadania e compareça para depor."

"Estamos proporcionando a Dirceu uma oportunidade de defesa, já que temos indícios suficientes para mover uma ação contra ele", declarou o promotor de Justiça.

Ontem, Gilberto Carvalho e Míriam Belchior, assessores de Lula, não compareceram à promotoria de Santo André para depor no mesmo procedimento. Eles pediram para depor em Brasília.