Título: Para Tarso, 'é uma pessoa atormentada espiritualmente'
Autor: Luciana Nunes Leal, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Nacional, p. A8

Ministro acha que Silvinho sofre por ter recebido jipe ilegalmente e fez "uma grande catarse pública"

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse ontem que o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira é um homem "espiritualmente atormentado". No Planalto, depois de reunir-se com o presidente Lula, Tarso considerou que Silvinho "fez uma grande catarse pública" com suas declarações sobre um suposto esquema de Marcos Valério para arrecadar R$ 1 bilhão. "Conheço pouco o Silvio, mas sei que atualmente é uma pessoa muito atormentada, espiritualmente, por ter recebido aquele presente, em circunstância indevida e ilegal."

Foi uma referência ao jipe que Silvinho ganhou da empresa baiana GDK, prestadora de serviços da Petrobrás. O Land Rover, que ele devolveu, motivou sua saída do PT. O escândalo ajudou a derrubar a antiga cúpula do partido e trouxe desgastes ao Planalto no ano passado.

Tarso contou que na reunião de Lula com ministros da coordenação política, de manhã, o governo considerou as declarações de Silvinho, "naquilo que lhe toca", assunto encerrado. "Como disse o presidente, o Silvinho pode dizer o que quiser."

Ele rebateu o ex-presidente Fernando Henrique, que criticou petistas por considerarem "companheiras" pessoas acusadas de corrupção. Tarso disse que o governo incentiva ações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União contra irregularidades. "Por que será que Fernando Henrique não fez isso no governo dele?"

A ida do ex-petista à CPI dos Bingos é uma questão pessoal ou do PT, e não do governo, segundo o ministro. "Nem torcemos para o Silvinho ir nem para não ir." Para ele, ao dar a entrevista Silvinho "fez uma grande catarse pública" e se expôs publicamente numa tentativa de "recomeçar a vida". "No que diz respeito ao drama humano, não deixa de ser comovente, mas do ponto de vista político para o governo não agregou nada, pelo contrário. O que fica latente nos depoimentos do Silvinho é que o esquema não conseguiu desconstituir a defesa do governo."

Luiz Marinho, ministro do Trabalho, foi mais duro ainda: classificou de "declarações de um desequilibrado" a entrevista. "Não enxergo que alguém que esteja no estado emocional em que está o Silvinho possa ter alguma credibilidade de qualquer segmento da sociedade."

Ele afirmou que as CPIs já estão se encaminhando para o fim "e é assim que devem seguir, para deixar o Brasil andar e o presidente Lula governar". Marinho contou que ainda não conversara com Lula. "Mas as declarações do Silvinho não mudam nada, não acrescentam nada ao que as CPIs já vinham analisando."

LULA

O presidente Lula concluiu que as declarações do ex-secretário do PT não o atingiram, mas prejudicaram o governo, porque "levantaram coisas que já estavam enterradas" e deram mais argumentos para a oposição atacá-lo. Essa foi sua principal conclusão sobre o assunto na reunião que teve com os ministros, segundo um deles.

Por causa da reunião, Lula chegou atrasado a uma cerimônia com sindicalistas. Não discursou, o que é pouco usual, e seu silêncio chamou a atenção dos presentes.

Na opinião de ministros que estavam na reunião, a entrevista de Silvinho só ofereceu mais detalhes do escândalo. Para os ministros, o que ele fez foi repetir parte da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que aponta a formação de "uma quadrilha" para garantir o poder ao PT.