Título: Marta contraria PT e não quer concorrer à Câmara
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2006, Nacional, p. A6

Governistas vão insistir para que ela aceite a missão, diante da falta de um nome que desponte como futura liderança da legenda na Casa

Preterida na escolha interna do PT do candidato ao governo de São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy já mandou um recado para os líderes do partido: "Não serei candidata a deputada federal." Cortejada pelos governistas como principal nome para encabeçar a lista de candidatos à Câmara, a decisão de Marta desagrada à direção nacional do partido, para quem sua candidatura seria uma "puxadora de votos".

Ontem, logo após o anúncio oficial de que o senador Aloizio Mercadante havia sido escolhido o candidato oficial do partido ao governo paulista, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, disse reservadamente para a ex-prefeita que a procuraria para conversar sobre a possível candidatura de deputada, segundo apurou o Estado. De imediato, ela repetiu que não seria candidata.

A ex-prefeita e seus aliados garantiram que ela entrará de cabeça na campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na de Mercadante ao governo do Estado, mas não lançará candidatura própria. "Ela não precisa ser candidata a deputada para contribuir com o PT", afirmou um parlamentar ligado à ex-prefeita.

O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, disse que se a ex-prefeita decidir não concorrer a direção estadual não fará objeções. "Temos um acordo com a ex-prefeita e, se ela não quiser, não se fala mais nisso."

Os governistas, porém, prometem não deixá-la fora de foco e vão insistir até o último momento para que entre na disputa. "Vamos fazer um abaixo-assinado para cobrar que a ex-prefeita Marta Suplicy seja candidata a deputada", disse o deputado estadual Vicente Cândido, um dos coordenadores da pré-campanha de Mercadante.

A insistência dos governistas é alimentada pela falta de um nome que desponte como futura liderança do partido, depois da cassação do mandato de José Dirceu e do isolamento político de José Genoino - que chegou a pensar em tentar uma candidatura à Câmara, mas teria sido demovido após as revelações feitas pelo ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira sobre corrupção no partido.

O próprio presidente Lula, segundo líderes do partido, vê com bons olhos a possibilidade de investir na candidatura de Marta como futura liderança do PT na Câmara.

BANCADA MARTISTA

A decisão de Marta de não entrar na disputa por uma cadeira de deputado cumpre um acordo que ela teria feito com sua base aliada - principalmente aqueles que também vão pleitear uma vaga na Câmara.

"A ex-prefeita já tem demonstrado que não quer ser candidata, para trabalhar nas campanhas de deputado de seus aliados mais próximos e assim criar uma bancada martista no Congresso", afirmou um parlamentar paulista do PT que vai lançar candidatura à Câmara.

Os principais aliados beneficiados por Marta seriam os deputados estaduais Cândido Vaccarezza e Ítalo Cardoso, o deputado federal Devanir Ribeiro e seus ex-secretários Gilmar Tatto e Carlos Zarattini.

"A ex-prefeita contribuiria mais com o PT com a candidatura própria, pois assim traria mais votos e aumentaria a força da legenda no resultado da eleição. Agora, se ela vai utilizar do peso político que tem para eleger um grupo específico de aliados dentro da legenda ela está equivocada", disse um deputado paulista.