Título: Na sala secreta, o destino dos reús
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2006, Metrópole, p. C1,3,4

Em cômodo acanhado do Fórum da Barra Funda, juiz e os sete jurados vão se reunir para dar o veredicto

Bruno Tavares

É em uma sala acanhada e sem janelas, com mesas posicionadas em formato de T, um computador e uma impressora, que o destino de Suzane von Richthofen e dos irmãos Christian e Daniel Cravinhos será definido nos próximos dias. Batizado de "sala secreta", o cômodo onde o juiz e os sete jurados se reunirão para chegar ao veredicto fica "escondido" nos fundos do plenário número 10 do Fórum Criminal Ministro Mário Guimarães, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

Mas, durante todo o julgamento, previsto para durar três dias, o local ficará trancado e vigiado 24 horas por dia. Só será reaberto após o exaustivo processo de interrogatórios, leitura dos autos (os 12 volumes já acumulam 2.204 folhas) e embates entre defesa e acusação. Ao entrar na sala, na quarta ou quinta-feira, os sete jurados encontrarão sobre a mesa papéis com as inscrições "sim" e "não".

Os votos deverão ser depositados na velha urna giratória de madeira escura. Dependendo do resultado da apuração, caberá ao juiz Alberto Anderson Filho, do 1º Tribunal do Júri, dosar a pena e, por fim, redigir a sentença.

Nos dias que antecedem o desfecho do júri mais aguardado dos últimos anos, os sete jurados viverão como legítimos big brothers. Um oficial de justiça fará o papel das câmeras, vigiando os escolhidos nos bastidores do plenário - até dentro dos quartos. Os jurados são as únicas pessoas que não poderão deixar o prédio até o fim do julgamento. Para garantir que fiquem incomunicáveis, eles terão seus celulares confiscados na entrada. E, a partir daí, não poderão ter acesso a jornais, revistas, rádio, TV ou computador. Até a troca de opiniões ou impressões sobre o andamento do júri é vetada.

As refeições serão feitas no refeitório do plenário número 10. Um funcionário do Tribunal de Justiça (TJ) contou que, nos julgamentos mais rápidos, são oferecidos lanches, pizzas e refrigerantes. Mas, dessa vez, o menu será outro. Os pratos deverão ser preparados pelo restaurante terceirizado que funciona dentro do Fórum.

À noite, quando o julgamento for suspenso, os sete jurados irão para o alojamento, também nos fundos do plenário. São quatro suítes refrigeradas por ar-condicionado a 23 graus. Em cada um dos cômodos há dois beliches e um pequeno guarda-roupa, com cabides. Roupas de cama, cobertores, toalhas e um kit com produtos de higiene pessoal serão fornecidos pelo tribunal. Os jurados só têm de levar algumas mudas de roupa. Os fumantes foram liberados para fumar nos corredores, mas serão "escoltados" pelo oficial de justiça. Na hora de dormir, a divisão deverá obedecer à norma dos acampamentos infantis: mulheres em um quarto, homens no outro.

Os réus também receberão atenção especial. Os irmãos Cravinhos chegarão em um veículo da Polícia Militar, vindos do Centro de Detenção Provisória (CDP) 1 de Pinheiros. Enquanto aguardam o início do julgamento, serão colocados em uma cela de 3 m2, pé direito alto (4 metros de altura) e chão de cimento rústico. Por ter conseguido o benefício da prisão domiciliar, Suzane ficará em uma ante-sala diante dos cômodos das testemunhas.

Ainda não se sabe onde os réus irão dormir. O promotor do caso, Roberto Tardelli, defende a permanência dos três na carceragem do fórum. Mas Suzane tem a seu favor uma liminar que garante a prisão domiciliar. Também há a possibilidade de os irmãos serem transferidos para uma delegacia. O juiz é quem vai decidir.