Título: Após quase 4 anos, Suzane vai a júri
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2006, Metrópole, p. C1,3,4

No pior cenário para a assassina confessa, ela poderá pedir para ir para o semi-aberto depois de 7 anos presa

Começa hoje o julgamento de Suzane von Richthofen, de 22 anos, e dos irmãos Daniel, de 25, e Christian Cravinhos, de 30, réus confessos do assassinato dos pais dela em 31 de outubro de 2002. A sessão tem início marcado para as 13 horas, no Fórum Criminal da Barra Funda, e previsão de três dias de duração. O juiz-presidente será Alberto Anderson Filho, titular do 1º Tribunal do Júri.

Se condenada à pena máxima de 60 anos - 30 pelo assassinato de cada um de seus pais -, Suzane poderá pedir para cumprir pena no semi-aberto depois de cerca de sete anos presa. Esse cenário é o pior que a jovem pode enfrentar.

Como agora vale para os crimes hediondos a permissão de progredir do regime fechado para o semi-aberto após cumprir um sexto da pena na prisão, a jovem teria de ficar 10 anos presa para poder fazer o pedido. Mas os cerca de 3 anos que ela já passou em penitenciárias da capital e no Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro são abatidos do total de 10.

Condená-la à pena máxima é o objetivo do promotor Roberto Tardelli, que fará a acusação, com a assistência do criminalista Alberto Zacarias Toron. Os irmãos serão acusados pelo promotor Nadir de Campos.

O destino dos réus será decidido por 7 jurados, sorteados de um grupo de 21 pessoas. Durante o sorteio, é provável que o julgamento seja separado porque as teses de defesa dos três são diferentes. Caberá ao Ministério Público Estadual (MPE) escolher quem acusa primeiro.

Tardelli sempre disse que os Cravinhos deveriam ser julgados antes porque estão presos há mais tempo que Suzane. Mas nada impede que ele vire a mesa e decida acusá-la antes.

Estão arroladas 20 pessoas como testemunhas dos réus, da acusação e do juízo. O depoimento mais esperado é o de Andreas, de 18, irmão da jovem.

Os jovens são acusados de homicídio triplamente qualificado - motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. A pena varia de 12 a 30 anos para cada morte.

Tardelli argumentará que ela foi a mentora do crime e usou os irmãos para executá-lo. Ele a descreverá como uma pessoa fria que não se arrepende do assassinato e tinha como objetivo ficar com o dinheiro dos pais, Manfred e Marísia.

A defesa, formada pelos advogados Mauro Otávio Nacif e Mário Sérgio de Oliveira, pedirá a absolvição alegando que Suzane foi envolvida pelo namorado a ponto de perder a noção do que era certo e errado. Usarão a educação rigorosa dos pais, a perda da virgindade com Daniel e o uso de maconha para tentar provar que ela foi levada a cometer o crime. "O namorado a forçou por meio de uma coação psíquica. Dizia que ela ficava com ele e sem os pais, ou com os pais e sem ele", disse Nacif.

No dia do crime, Suzane era menor de 21 anos, o que é uma atenuante de pena. A fração de pena subtraída do total por conta disso fica a critério do juiz.

Os representantes dos Cravinhos, Geraldo e Gislaine Jabur, argumentarão que Suzane foi a mentora do crime e não tentarão absolvê-los, mas conseguir a menor pena possível. Especialistas ouvidos pelo Estado ponderaram que os réus podem ser condenados a penas inferiores a 20 anos, por assassinato, para evitar que seja cabível um recurso chamado protesto por novo júri. Pena maior de 20 anos garante o direito a um novo julgamento automaticamente.