Título: Em ruínas, palácio que recebeu d. Pedro II
Autor: Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2006, Metrópole, p. C5

Imóvel no Rio tem pichação na fachada e está com piso destruído

A fachada está pichada; o telhado, desfalcado; o piso, destruído. O atual estado do Palacete do Conde de Itamaraty, no Alto da Boa Vista, zona norte do Rio, em nada remete a seu passado luxuoso. A construção de 1854 foi projetada para ser residência de veraneio de uma rica família de comerciantes e teve entre seus freqüentadores d. Pedro II. Hoje, apesar de o imóvel ser protegido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o que se vê é sujeira e entulho por todo lado.

A imponente construção em estilo neoclássico leva a assinatura de José Maria Jacintho Rebelo, arquiteto responsável por parte dos projetos do Palácio do Itamaraty, onde funciona o Ministério das Relações Exteriores, e do Palácio Guanabara, então Paço Isabel, atualmente sede do governo. Ele ainda executou a obra do Palácio Imperial, onde fica o Museu Imperial, em Petrópolis.

Os primeiros ocupantes do palacete foram Francisco José da Silva Rocha, o conde de Itamaraty, e seus parentes. Eles abriam as portas da casa para veranistas da mais alta estirpe. "D. Pedro II esteve lá. A família do conde passava temporadas e recebia gente ilustre", diz o professor de História de Arquitetura Gustavo Peixoto, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ.

"A região era freqüentada pela família real, que procurava temperaturas mais amenas do que as do Rio", explicou o arquiteto Antônio Agenor Barbosa. O Alto da Boa Vista é uma área de montanha em meio à Floresta da Tijuca, daí o clima mais frio - é lá que são registradas as temperaturas mais baixas da capital. No bairro, ficam inúmeras mansões, todas muito bem conservadas. A maioria é alugada para festas.

O palacete do Conde do Itamaraty, onde já funcionou um restaurante, também viveu dias festivos. Até os anos 90, podia ser alugado para aniversários e outras comemorações, inclusive bailes funk. "A casa era movimentada, gravaram até novela e clipe. Quando tinha festa, ficava lotado de carros. É muito triste ver isso assim", disse Valteir de Melo, que trabalha na região há muito tempo.

A casa está fechada há pelo menos dez anos, segundo ele. Por todos os cômodos, há restos de mobília usadas em festas, como sofás e pufes. O piso está parcialmente destruído. Nas paredes, sujas, há infiltrações.

O teto original foi rebaixado, mas o gesso está caindo. No terreno, que dá para a Floresta da Tijuca, o mato cresceu muito. A parte mais preservada é a capela, que conserva parte do assoalho original, de madeira, e os vitrais, praticamente intactos.

Entre os donos do palacete está o comerciante Manuel Soares Silva, que foi procurado pelo Estado, mas não foi localizado. No imóvel, vive o caseiro, Luís (ele não quis informar o nome completo). Ele disse que está ali desde 1980 e o casarão se encontra abandonado porque os proprietários o arrendaram para terceiros, que não fizeram a manutenção. O Estado também tentou conversar com o diretor do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Marcus Monteiro, mas ele também não foi encontrado.

O diretor da FAU lamenta o descaso com a construção."Trata-se de uma verdadeira jóia."