Título: Mercosul está agonizando, diz FHC
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2006, Economia & Negócios, p. B5

Em entrevista a El País, ex-presidente reclama que falta de ação levou o Brasil a perder a liderança regional

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o Mercosul está agonizando e que a situação pode se agravar, caso um dos membros do bloco comercial do Cone Sul assine acordos de livre comércio com outros países. Ao mesmo tempo, ele se queixou da perda de liderança do Brasil na região.

Em entrevista publicada pelo jornal uruguaio El País, Fernando Henrique destacou a falta da intervenção do Brasil na crise diplomática entre Argentina e Uruguai, causada pela construção de duas fábricas de celulose (uma finlandesa e outra espanhola) no Rio Uruguai, na fronteira entre os dois países.

As obras representam o maior investimento privado da história do Uruguai e são veemente criticadas pelos argentinos, que alegam questões ambientais. Os uruguaios alegam que não há riscos ao meio ambiente porque serão utilizadas tecnologia de ponta. O governo argentino levou a disputa para a Corte Internacional de Haia.

Na entrevista, Fernando Henrique também se mostrou preocupado com o papel de destaque que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vem alcançando na região, o que considerou um desafio.

Sobre o Mercosul, o ex-presidente observou que os países membros nunca se decidiram por uma integração verdadeira, dando mais poderes a uma comissão supranacional, que levasse em consideração a diversidade da população e o peso econômico das nações.

"Com as crises cambiais e a conseqüente recessão do final da década de 90, que afetaram todos, mas principalmente a Argentina e o Brasil, alguns membros passaram a ter uma atitude defensiva", disse Fernando Henrique.

Segundo ele, a liderança do Brasil na América do Sul diminuiu na mesma medida em que alguns dos líderes brasileiros começaram a proclamá-la de forma ostensiva.

"Além de ficarmos calados sem tomar uma atitude conciliatória no caso do conflito entre Uruguai e Argentina, deixamos que a Venezuela interviesse nos atritos da Bolívia com os países vizinhos e nos acomodamos numa posição de encolhimento."

O ex-presidente comentou que os acordos de livre comércio entre os Estados Unidos e alguns países da região estão se proliferando e ressaltou que a agonia do Mercosul aumentará.

"Por trás disso está nossa tibieza ao reagir à proposta da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Rejeitamos o acordo global e agora nos vemos diante de uma onda de acordos parciais que desequilibrarão a integração regional", concluiu.