Título: Brasil e EUA terão sistema de consulta informal
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2006, Economia & Négócios, p. B4

Acerto prevê redução de burocracia e criação de grupos de trabalho para aumentar comércio bilateral

Sem perspectiva de firmarem um acordo de livre comércio, Brasil e Estados Unidos vão estabelecer um sistema de consultas informais destinado a facilitar o comércio entre os dois países. O acerto será firmado entre o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Carlos Gutierrez, que estará no Rio hoje e amanhã. "É um projeto para explorar com mais profundidade os pontos positivos da relação bilateral, porque nossas exportações aos Estados Unidos têm crescido menos que a média das exportações brasileiras."

Mecanismo semelhante já foi usado entre países do Mercosul e Portugal. "Não entra no campo das questões sanitárias, mas há vários temas onde existe burocracia, muitas vezes dificuldades relacionadas a investimentos, e queremos ter um grupo que dê mobilidade, que resolva as questões do dia a dia."

O documento prevê a criação de quatro grupos temáticos de trabalho, que se reunirão periodicamente. Os temas foram divididos em facilitação de negócios, investimentos, etanol, posições e negociações multilaterais. A proposta para aumentar o comércio bilateral foi feita pelo presidente dos Estados Unidos, George Bush, em visita ao Brasil no final de 2005.

Furlan vai propor que a primeira reunião aconteça em setembro, em Washington, quando seriam apresentadas sugestões de ações. Um dos temas a ser negociado é facilitar remessas de pequenos volumes, como amostras, para os Estados Unidos. "A burocracia prejudica a eficiência do sistema", disse Furlan. Também pode ser discutida a concessão de visto para funcionários de empresas dos dois países.

Outro assunto da pauta é a definição de uma cota para as exportações de álcool anidro, sem cobrança da sobretaxa de US$ 0,54 por galão. A questão do etanol é importante ao Brasil, que busca alternativas para driblar as barreiras tarifárias dos Estados Unidos.

Furlan chegou ontem ao Brasil, depois de liderar missão de mais de 50 empresários a cinco países da América Central. Em todos eles, discutiu com empresários a possibilidade da formação de joint ventures entre empresas brasileiras e locais para produção de álcool anidro na região. Como esses países têm acordo de livre comércio, o combustível seria exportado aos Estados Unidos sem sobretaxa.

A missão também rendeu frutos na área de infra-estrutura para a construção de pequenas centrais hidrelétricas, interligação de linhas da América Central e instalação de caldeiras para o fornecimento de energia com bagaço de cana. A Petrobrás também negocia a instalação de refinaria na região e a possibilidade de explorar petróleo em águas profundas na Costa Rica.

A Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) acertou a inauguração, em outubro, de um centro de distribuição de produtos brasileiros na Cidade do Panamá, com 120 empresas. Mais de US$ 80 milhões em negócios foram fechados durante a missão à América Central. Na área de serviços, como infra-estrutura, o valor chegou a US$ 1,080 bilhão.