Título: Adiamento e relatório paralelo ameaçam CPI
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2006, Nacional, p. A6

Oposição e governo não se entendem sobre Okamotto e morte de Daniel

Governo e oposição preparam-se para um duro confronto nesta semana, com a apresentação do relatório final da CPI dos Bingos. Embora não falem abertamente na hipótese, os governistas avaliam a possibilidade de fazer um documento paralelo, se perceberem que não terão votos suficientes para derrubar a conclusão do relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).

Por outro lado, a oposição responde com a ameaça de não levar o relatório a votação e prorrogar os trabalhos.

Há dois pontos inegociáveis que devem emperrar qualquer tentativa de acordo: o relatório pedirá o indiciamento de pessoas próximas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e dirá que teve motivação política o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, petista morto em janeiro de 2002.

"Vamos buscar um caminho até o último momento, mas acho que vamos ter que ir para votação e vencerá quem tiver mais voto. Está tudo muito radicalizado", disse ontem o relator, enquanto folheava as 909 páginas do relatório elaborado pela equipe técnica. A versão final será apresentada quarta.

Pré-candidato ao governo do Rio Grande do Norte, Garibaldi tem pressa em encerrar os trabalhos. Se vingar a hipótese, hoje remota, de prorrogação da CPI, ele será substituído por outro senador, a ser escolhido entre os que não estarão em campanha para eleger-se.

"Não podemos falar em relatório paralelo se não sabemos quais são as regras. Haverá voto em separado? Haverá votação de destaques? Não sabemos", diz a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), integrante da CPI. Outro senador petista, Tião Viana (AC), avisa: "Seremos contra tudo que fugir do fato determinado".

Os petistas insistem que a morte de Celso Daniel não tem qualquer vínculo com o foco da CPI, criada inicialmente para apurar o esquema de corrupção entre empresários de jogos e integrantes do governo.

O relatório apontará esquemas de desvio de dinheiro de empresas prestadoras de serviço para as prefeituras de Ribeirão Preto e de Santo André, montados para abastecer o caixa 2 do PT. "É certo que havia esquemas de desvio nas prefeitura e que havia caixa 2. Minha dúvida é sobre as conexões entre os esquemas", diz Garibaldi.

O relator calcula que será pedido o indiciamento de 65 pessoas, contando as 34 que já foram indiciadas no relatório preliminar, votado em janeiro. A três dias da apresentação do documento final, o relator diz que ainda não encontrou elementos suficientes para recomendar o indiciamento do ex-ministro e ex-deputado José Dirceu e do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho.

Ambos são acusados por ex-colaboradores do PT de terem comandado o esquema de corrupção nas prefeituras petistas. O indiciamento de outro amigo de Lula, o advogado Roberto Teixeira ainda é motivo de dúvida para o relator. "Em alguns casos, vou recomendar que sejam aprofundadas as investigações", contou ele.