Título: Efeito eleitoral é controverso, mas causa críticas sobre exploração da pobreza
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2006, Nacional, p. A4

Desde a primeira cadeira de rodas distribuída no século passado por Evita Peron na Casa Rosada, berço do populismo latino-americano, políticos do continente acreditam que a distribuição de benefícios é útil para garantir votos junto aos necessitados. É duvidoso que tantos tenham se enganado, por tanto tempo, em tantos lugares.

"Isso é o típico voto da máquina do governo, comum em todas as administrações", diz o deputado Rodrigo Maia, líder do PFL na Câmara. "Lula quer se reeleger com apoio da população carente, de municípios pobres. O povo desassistido sempre espera ajuda do governo."

Para Rômulo Paes de Souza, secretário de Avaliação e Gestão de Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, "o apoio da população às políticas deste governo mostra o reconhecimento por uma proposta eficaz." No caso do Bolsa Família, há transferência de renda de modo definido pelo secretário como "controlado e com contrapartida", numa referência à exigência de que as crianças das famílias beneficiadas freqüentem a escola.

Mesmo fazendo críticas ferozes aos programas de Lula, a oposição achou prudente anunciar que, em caso de vitória de Geraldo Alckmin, o Bolsa Família será mantido - fato comemorado no Palácio do Planalto como prova definitiva de que o governo vai no caminho certo.

A experiência de outros governantes ensina que o valor eleitoral de determinado benefício social varia em função do ambiente político geral. Derrotado no combate à inflação, José Sarney criou um programa de distribuição de leite e nem por isso conseguiu alimentar sucessores viáveis em 1989. Fernando Henrique Cardoso lançou diversos benefícios no final do segundo mandato - o Vale Gás chegou a 9 milhões de famílias - mas nem por isso emplacou José Serra como sucessor.

Estrategistas da campanha de 2006 estão convencidos de que a visão positiva da população diante dos programas de Lula se explica por uma conjuntura em que os alimentos caíram de preço, o índice de empregos com carteira assinada melhorou e a economia apresenta índices de crescimento modestos, mas superiores aos dos anos finais de FHC.

Rômulo Paes de Souza recorda que Lula fez campanha em defesa dos mais pobres e considera que os programas sociais "traduzem isso". Ele acha natural que um programa bem-sucedido tenha aprovação da população beneficiada. Para Rodrigo Maia, "o governo tem sido muito eficiente para assinar cheques e dar benefícios aos pobres", mas não se mostra capaz de encaminhá-los ao mercado de trabalho. "O governo trabalha para manter os pobres numa condição de dependência."

Citando os números médios do Bolsa Família, Souza recorda que, ao assegurar renda extra de R$ 64 para brasileiros com rendimento de até R$ 300, o governo engorda o orçamento dessas pessoas. "Qualquer assalariado sabe o que é ter um aumento de 21%", contabiliza Souza. "Concretamente, a pobreza está diminuindo."