Título: Governo fez ameaças, diz Dantas no Senado
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Nacional, p. A12

Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, denunciou ontem, em depoimento de mais de três horas à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que sofreu dura pressão em nome do governo, feita pelo então presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, depois de se recusar a contribuir com a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de negar o pagamento de US$ 50 milhões supostamente pedidos pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares para sanar dificuldades financeiras do PT. Em troca, Delúbio teria acenado com facilidades ao banco na briga pelo controle da Brasil Telecom (BrT).

Dantas argumentou que não se poderia qualificar a pressão de extorsão, já que o código penal exige que haja agressão física para essa tipificação, mas reafirmou que o tratamento do governo foi ameaçador. "Houve ameaça, fomos prejudicados e discriminados." O banqueiro confirmou que Carlos Rodenburg, um de seus sócios, foi procurado na campanha presidencial pelo ex-presidente do Banco Popular, Ivan Guimarães, para contribuir com a campanha. Material publicitário entregue na ocasião foi devolvido sem a doação.

Mais tarde, em julho de 2003, em encontro em Brasília de Rodenburg com Delúbio, o ex-tesoureiro teria pedido US$ 50 milhões, dizendo "que poderia ajudar a diminuir as dificuldades" que Dantas enfrentava para manter-se no controle da BrT. "Foi uma conversa delicada. Não demos o dinheiro."

A essa altura da briga com os fundos de pensão, Dantas tinha o Citibank como um de seus aliados . "O vice-presidente do Citi (cujo nome o banqueiro omitiu) disse que não toleraria assalto aos interesses do banco." A partir daí, segundo o banqueiro, as conversas com Delúbio evoluíram para diálogos duros com Casseb. A primeira delas teria ocorrido após reunião no Planalto, agendada sem que Dantas tivesse pedido, com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ali, ele foi informado de que havia problemas entre o Opportunity e os fundos de pensão na gestão da BrT. Em seguida, o banqueiro teria sido encaminhado para conversas com o ex-presidente do BB. "Casseb foi curto e grosso. Ele começou a dizer que falava em nome do governo e que eu tinha que entregar o direito (de controle da BrT)."

Casseb ligou para Arthur Carvalho, um dos diretores do Opportunity: "Ele disse que era a nossa última oportunidade de entregar os direitos. Caso contrário, seríamos atropelados . E fomos."

O banqueiro admitiu que a BrT, na gestão do Opportunity, contratou Roberto Teixeira, compadre e amigo de Lula, na presunção de que isso poderia ajudá-lo a manter o controle da companhia.