Título: Irã poderá enriquecer urânio
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Internacional, p. A15

Se o governo do Irã suspender suas atividades de enriquecimento de urânio e comprometer-se a pôr seu programa nuclear sob o regime de salvaguardas administrado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), poderá reiniciar mais tarde o enriquecimento, que alega ser para fins pacíficos, com o respaldo da comunidade internacional.

Esta é, em essência, a proposta central do pacote de medidas, apoiado pelos EUA, que o chanceler da União Européia, Javier Solana, apresentou terça-feira ao Irã para desarmar a crise desencadeada pela decisão desse país de ativar as centrífugas que construiu secretamente nos últimos 18 anos. Como signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e membro da AIEA, o Irã teria de ter declarado essas instalações.

A informação, antecipada ontem pelo Washington Post, não foi negada por nenhum dos interessados e acabou sendo confirmada pelo tom das declarações de Solana e do chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki. Falando a jornalistas em Potsdam, Alemanha, Solana declarou-se "mais otimista do que um mês atrás", quando o Irã rejeitou quaisquer conversas que incluíssem a suspensão do programa de enriquecimento como condição inicial para a volta à mesa de negociações. "Na questão nuclear, preferimos a cooperação à confrontação", afirmou Motakki, segundo a agência oficial iraniana Irna.

O governo americano enfatizou que a oferta feita a Teerã requerem a suspensão de atividades sensíveis com combustível nuclear, o que incluiria pesquisa e desenvolvimento, durante as negociações. A retomada efetiva do enriquecimento de urânio seria, na prática, postergada por alguns anos. "Essa condição teria de ser mantida durante todo o período de negociação", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack. O mesmo foi dito pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

O abrandamento da crise entre Teerã com os governos europeus e o do presidente George W. Bush exigiu importante mudança da posição dos EUA. Até dias atrás a posição de Washington era que o Irã só poderia ter acesso no futuro a combustível atômico se o comprasse das potências nucleares reconhecidas, como a Rússia.