Título: Aprovação de Bachelet cai 7,5 pontos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Internacional, p. A20

A aprovação da presidente Michelle Bachelet caiu 7,5 pontos porcentuais em um mês afetada pela pior greve estudantil em mais de três décadas no país, revelou uma pesquisa divulgada ontem pela empresa Adimark-GFK.

Embora a presidente ainda mantenha um porcentual alto de popularidade, a pesquisa chamou a atenção para a rapidez com que Bachelet perdeu apoio entre parte da população. Em abril, a aprovação era de 62% e, em maio, foi de 54,5%. Há menos de três meses no poder, a presidente teve um desempenho ruim especialmente entre os jovens, muitos deles protagonistas da revolta estudantil que já dura três semanas. "É provável que o estudo não tenha conseguido sintetizar o efeito completo do conflito, já que a pesquisa foi realizada ao longo de todo o mês de maio", estimou a empresa de pesquisa.

Segundo a Adimark-GFK, entre os jovens de 18 a 24 anos, a aprovação do governo teve uma redução de 14,4 pontos porcentuais. "Até abril o grupo mais jovem era, de longe, o de maior apoio ao governo (70,8%) e agora o resultado é similar aos dos grupos com mais idade", indicou a consultora.

COMISSÃO

A presidente anunciou ontem uma ampla comissão, integrada também por estudantes secundaristas e universitários, para estudar a reforma da educação chilena com a esperança de pôr fim a paralisação promovida por milhares de estudantes contra o baixo nível educacional. Bachelet anunciou que a comissão terá um prazo de três meses para estudar as reformas e assegurou a participação de 6 representantes dos secundaristas e 6 dos universitários no conselho (de 66 membros), um número muito inferior ao exigido pelos estudantes. "Eu os convidei (aos estudantes) a participar deste conselho, que é de um alto nível técnico, mas também com uma vasta representação da cidadania", disse Bachelet, destacando que "ninguém é dono da educação".

Os líderes estudantis, no entanto, anunciaram na noite de terça-feira, após mais de 10 horas de negociações, que manterão as mobilizações. Eles exigem ter uma participação majoritária (50% mais 1) no conselho de que estudará a reforma do sistema de educação.

"As mobilizações, as ocupações (das escolas) e as paralisações serão mantidas até que a assembléia dos estudantes decida tomar outras medidas ou avançar por outros caminhos", declarou na quarta-feira à noite Juan Herrera, um dos principais porta-vozes do movimento estudantil. Ele acrescentou que os líderes da Assembléia Coordenadora de Estudantes Secundários deveriam se reunir ontem novamente.

Os estudantes também disseram que Bachelet deveria adiar a viagem que ela iniciará hoje aos EUA e países do Caribe para primeiro resolver os problemas da educação. O protesto dos estudantes secundaristas, que começou em meados de maio, ganhou força nas últimas semanas com a adesão de universitários e outros setores sociais. Na segunda-feira, mais de 600 mil estudantes de nível médio e cerca de 300 mil universitários realizaram uma greve, que contou com o apoio de várias organizações sociais, exigindo melhorias no sistema de educação, apesar de o governo ter atendido dias antes parte das exigências dos estudantes.

Bachelet concordou em isentar 80% dos alunos pobres da taxa de vestibular e criar a comissão para analisar, entre outras coisas, a reforma de uma lei de educação da época da ditadura militar (1973-90), que passou para a municipalidade a responsabilidade pela administração das escolas públicas. A presidente também enviou na terça-feira ao Congresso um projeto genérico "para garantir a qualidade da educação". Os estudantes querem equiparar a qualidade de ensino das escolas públicas à dos colégios particulares, onde estudam apenas 10% dos estudantes.

O governo aceitou fornecer desconto no transporte público, mas não atendeu à exigência estudantil de transporte gratuito, considerando que o custo anual, de US$ 360 milhões, seria muito elevado.