Título: 'Tremor será só de 2 pontos na escala Richter'
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a situação positiva das contas externas do Brasil dá ao País uma situação muito mais confortável do que a da Turquia para enfrentar o movimento de aversão ao risco que toma conta dos investidores estrangeiros. Segundo ele, a turbulência externa causada pelo temor de escalada dos juros nos Estados Unidos será passageira e não causará uma crise financeira internacional. "Na escala Richter, ela atinge 1,5 ou 2 pontos", afirmou. "É apenas um tremor, não um abalo sísmico importante."

Ao avaliar a decisão do BC da Turquia de elevar os juros, Mantega disse que houve uma "revoada" dos investidores expostos a países emergentes diante da perspectiva de alta de juros nos EUA. "Os países que sofreram um impacto maior são os que têm déficits em transações correntes, que precisam de capital externo para fechar as suas contas", disse. "É justamente o caso da Turquia, por isso que ela padece mais."

Mantega ressaltou que o Brasil está numa situação muito confortável. "O País está com sobra de capital externo, gerando divisas que não são nascidas de capitais especulativos, mas a partir do faturamento do comércio exterior", disse o ministro."Estamos faturando em moeda forte com abundância, temos superávit em conta corrente e ainda recebemos um volume de investimentos estrangeiros. Não precisamos de capital externo, está até sobrando."

O ministro também acredita que o ciclo de queda dos juros no Brasil não deverá ser afetado pela volatilidade dos mercados externos. "Se você me perguntar se vai haver alguma mudança na política de juros por causa disso, eu vou te dizer: só se isso afetar a inflação no Brasil", disse ele. "Se não afetar, não tem razão para alterar a política monetária, de interromper a queda dos juros por causa disso."

Na opinião de Mantega, os temores que vêm agitando os mercados mundiais nas últimas semanas são exagerados. Segundo ele, o Federal Reserve fez apenas uma mudança na calibragem de sua política de ajuste gradual dos juros iniciada na gestão de Alan Greenspan. "O novo presidente do Fed (Ben Bernanke), talvez por inexperiência, deu sinais contraditórios, e isso fez com que as acomodações fossem maiores do que se ele tivesse dado declarações mais consistentes", disse o ministro.