Título: Greenspan: 'Petróleo ameaça EUA'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Economia & Negócios, p. B5

O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan disse ontem que os Estados Unidos começaram a sentir os efeitos do elevado preço do petróleo, e que os consumidores são os que têm as maiores perdas.

Em sua primeira audiência na Comissão das Relações Exteriores no Senado após ter deixado a direção do Fed, Greenspan disse que a economia americana e a do resto do mundo têm conseguido absorver sem maiores dificuldades o preço da energia até agora, mas que o cenário parece estar mudando.

"Dados recentes mostram que finalmente podemos estar sofrendo algum impacto. Até o momento, é difícil encontrar uma diminuição significativa na atividade econômica mundial como conseqüência da alta dos preços do petróleo.", disse Greenspan. "Os EUA, especialmente, foram capazes de absorver o grande imposto implícito da alta dos preços até agora." Segundo ele, as empresas aumentaram a produtividade para manter seus lucros, mas os consumidores não puderam compensar a alta e já enfrentam a alta da gasolina.

Greenspan, que fundou uma empresa de consultoria e escreve suas memórias, não acredita que vá haver um alívio na pressão dos preços. "O equilíbrio entre a oferta e a demanda mundial de petróleo é tão precária que até pequenos atos de sabotagem ou insurreições locais podem ter impacto significativo."

Segundo ele, de um lado, o apetite da China e dos EUA eliminam a capacidade ociosa de produção e, do outro, o investimento não tem sido o suficiente, exceto na Arábia Saudita, "para satisfazer a alta da demanda mundial".

Mas Greenspan vê um efeito positivo nessa escalada. A alta dos preços deve diminuir "a preocupante dependência do petróleo" ao estimular o desenvolvimento de fontes de energia alternativa.

O ex-presidente também disse confiar no álcool como substituto da gasolina, mas não no derivado do milho, mas o da cana-de-açúcar, mais barato.

Atualmente, o Congresso analisa uma proposta para suprimir as tarifas à importação de etanol de cana-de-açúcar, cujo principal exportador é o Brasil.