Título: País vai crescer 3,8%, prevê Ipea
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou a projeção de crescimento da economia para este ano de 3,4% para 3,8%. A nova estimativa é maior do que a projeção média do mercado (3,6%). Para o instituto, contudo, dificilmente o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá acima de 4%, como chegaram a prever integrantes do governo. O Ipea também estima uma taxa de investimento de 20,5% do PIB para 2006 e de 21,2% em 2007 - seriam dois recordes sucessivos desde 1996.

"Os dados prenunciam um ano bom para o investimento", disse o coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do Ipea, Fábio Giambiagi. Com o resultado no primeiro trimestre, quando o investimento cresceu 9%, a projeção para o ano foi ampliada de 5,8% para 7,8%. Os motivos para o avanço do investimento são a "superação do trauma da crise política", dinamismo na construção civil, gastos no ano eleitoral e a redução dos juros.

Pela segunda vez seguida desde dezembro, a previsão de inflação foi revisada para baixo. A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2006 recuou de 4,8% (em dezembro) para 4,5% (março) e, agora, 4,4%. A inflação baixa permite novos cortes na Selic, que deverá chegar a 14,2%, na média do último trimestre. Para o câmbio, a projeção é de taxa de R$ 2,30 no último trimestre. Já o saldo comercial esperado é de US$ 40,4 bilhões (a estimativa anterior era de US$ 41,8 bilhões).

Mesmo turbulências externas não preocupam como antes, porque o País está menos vulnerável, na visão do Ipea. "O principal desafio não é evitar grandes crises, e sim fazer com que uma economia com limitação de crescimento de 3,5% a 4% tenha condições de avançar em torno de 5%." Sem citar as projeções do governo, Giambiagi disse que crescer "acima de 4% este ano nos parece difícil".

Ao longo do ano, o Ipea prevê suave desaceleração no crescimento trimestral. Depois de avançar 1,4% no primeiro trimestre sobre o anterior (com ajuste sazonal), os crescimentos nos trimestres seguintes, na mesma base de comparação, seriam de 1,2%, 1,1% e 0,9%. Para o ano que vem, o Ipea projeta novo crescimento de 3,8%.

Há dúvidas, ainda, quanto ao cenário global e aos resultados das eleições presidenciais deste ano. Nesse sentido, a questão não seria tanto alcançar uma meta de superávit fiscal num nível de 5%, como chegou a ser defendido pelo Ipea no ano passado, mas "muito mais a qualidade do ajuste fiscal", com menos gastos correntes.

"A idéia (dos 5%) era para aproveitar o crescimento mais forte da arrecadação para a redução de dívidas", diz o diretor de macroeconomia do Ipea, Paulo Levy, defendendo uma política fiscal mais austera que abra espaço para o investimento público e redução da carga tributária. Quanto à meta atual dos 4,25%, ele alerta que para alcançá-la este ano "vai ter de reverter o crescimento forte dos gastos" no início do ano. Para Levy, 4,25% "está bom" nas condições atuais. Ele ressalta, contudo, que um superávit maior ajudaria a reduzir mais rapidamente a taxa de juros.