Título: Fidelidade, mesmo na crise
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Economia & Negócios, p. B14

Na semana passada, o consultor gaúcho Assis Francisco Haubert Ferreira fez questão de cumprimentar e desejar boa sorte a todos os comissários de bordo do vôo da Varig que fez de São Paulo a Porto Alegre. Há 19 anos ele só voa de Varig e sabia que esta semana seria decisiva para o futuro da companhia.

Fiel à empresa, ele conta que só foi obrigado a voar uma vez de Gol, porque não havia lugares em um vôo da Varig. "Eu me arrependi na hora e disse para mim mesmo que nunca mais faria isso. Fiquei praticamente encaixado no banco, que era muito apertado. A Varig é incrivelmente superior no seu atendimento em terra e a bordo", diz ele, que também não se conformou em receber de lanche barrinhas de cereais.

Voar de TAM também é um problema para ele. "Conhecia funcionários da empresa na época do acidente do Fokker 100, e já havia rumores dentro da empresa com relação aos problemas de manutenção", diz ele. Desconfiado, ele diz que até hoje não viaja "de forma alguma" com a empresa. "Sei que a Varig prima pela segurança e que a manutenção dos aviões é mais importante do que tudo."

Mesmo diante da crise, ele diz que não está preocupado pelo fato de ter 20 mil milhas guardadas. "Sei que não irei perdê-las, não acredito na boataria de que a empresa vá acabar."

O executivo Sidney Fabiani é outro que não troca a marca por outra. Há 15 anos ele viaja com freqüência - cerca de três vôos domésticos por mês e quatro viagens internacionais anuais - e, mesmo com a crise, não procura as concorrentes. Nunca voou de Vasp e Transbrasil e, depois dos acidentes com a TAM, deixou de voar pela empresa. Também não vê vantagens em voar com a Gol.

"Não entro nessa onda de empresa aérea de baixo custo. Um bom serviço de bordo faz toda a diferença", diz, em referência ao modelo adotado pela Gol. Outro ponto positivo da Varig, segundo Fabiani, é a maior oferta de horários e o programa de milhagem - o executivo acumula hoje 200 mil milhas.

Mas isso não é o que pensa a estudante Kelly Esquio. Somando suas milhas com a dos pais, são mais de 300 mil. "Mas elas não servem mais para nada. Queria viajar no dia 9 de junho para os Estados Unidos e não consegui trocar as passagens, pois as atendentes sempre davam uma desculpa diferente, o que revolta", conta. Depois de tanta discussão por causa das milhas, ela optou por comprar passagens na TAM.