Título: Destino da Varig deve ser definido hoje em leilão no Rio
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2006, Economia & Negócios, p. B14

O capítulo mais importante em quase 80 anos de história da Varig será escrito às 10 horas da manhã de hoje em um hangar do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Sem dinheiro em caixa, a empresa depende do sucesso do leilão, marcado pela Justiça, para escapar da falência.

Segundo pessoas envolvidas com o negócio, a companhia aérea OceanAir aparece como favorita. Seu dono, o empresário German Efromovich, negociou intensamente nos últimos dias com autoridades do governo e da Justiça garantias para entrar no leilão sem correr o risco de herdar dívidas da Varig.

Correm por fora o fundo de investimento Matlin Patterson, que comprou a VarigLog (empresa de logística da Varig), e um fundo canadense, que estaria sendo representado pelo escritório de advocacia Ulhôa Canto, Rezende e Guerra.

Mas num negócio cercado de questionamentos e dúvidas, feito às pressas para evitar a falência da empresa, nenhum dos envolvidos apostava ontem em um desfecho. Surgiram especulações de todo o tipo, desde que nenhum candidato se sentiria seguro a participar do leilão, até o aparecimento de um investidor de última hora.

Uma informação era dada como certa: dificilmente a Varig será vendida pelo preço pedido pela Justiça. Pelas normas do leilão, a Varig pode ser arrematada de duas formas.

A primeira opção tem um preço mínimo de US$ 860 milhões e inclui rotas nacionais e internacionais. Ficam de fora as dívidas, e a área comercial, com as receitas do Programa Smiles e a venda de passagens.

Na segunda opção, será vendida a Varig Regional, com as operações no Brasil. Não estão incluídas as dívidas, a parte internacional e o Smiles.

As duas opções de venda prevêem que, se não aparecerem propostas na primeira rodada do leilão, não haverá preço mínimo na etapa seguinte.

Na luta para viabilizar o leilão, a Varig obteve uma vitória às vésperas do leilão. Um parecer emitido pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) ratificou a decisão judicial de não transferir ao comprador as dívidas fiscais da Varig, o que pode favorecer o clima de concorrência no leilão.

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, conta que assim que recebeu o parecer colocou as informações no data room (onde ficam os dados financeiros) para motivar os investidores. "Já via o leilão com sucesso. O parecer deu mais tranqüilidade para todos."

Decisões como essa eram uma das reivindicações da OceanAir. Ontem, surgiram boatos que a empresa estaria fora do negócio porque não havia obtido garantias que ficaria com todos os espaços da Varig nos aeroportos (slots), mas a informação foi negada.

"A OceanAir tem interesse e vai participar do leilão", afirma uma fonte que acompanha as negociações. Segundo essa fonte, a OceanAir acessou o data room até às vésperas do leilão e tem interesse em preservar o nome Varig no mercado. Segundo fontes do mercado, a OceanAir teria considerado fazer uma proposta de US$ 150 milhões no leilão.

A companhia portuguesa TAP, a empresa de reservas de passagens Amadeus, TAM e Gol estiveram no data room. Mas, segundo fontes, estariam inclinadas a desistir do leilão.

Já o fundo americano Matlin Patterson não acessou o data room, mas pode fazer seu lance. Depois de comprar a VarigLog por US$ 48,2 milhões, em dezembro, o Matlin fez uma auditoria na companhia.

Por meio da subsidiária Volo do Brasil, o Matlin chegou a oferecer US$ 350 milhões pela Varig. "Mais de 64% do faturamento da VarigLog vem da Varig. Ou o fundo fica esperando para ver o que vai acontecer ou entra para não deixar a VarigLog quebrar", diz uma fonte ligada à empresa.