Título: 'Assassina', ouve Suzane ao ser solta
Autor: Luciana Garbin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Economia & Negócios, p. C1

Acusada da morte dos pais deixa a cadeia e vai para prisão domiciliar

Suzane von Richthofen deixou às 17h40 de ontem o Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro. Por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ela vai aguardar em prisão domiciliar preventiva o julgamento - marcado para segunda-feira, no Fórum Criminal da Barra Funda. Deve ficar na casa de seu protetor, o advogado Denivaldo Barni, na Vila Sônia, zona sul, aonde chegou às 19h30.

Ré confessa da morte dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, em outubro de 2002, a jovem de 22 anos deve ser julgada por duplo homicídio triplamente qualificado, assim como os irmãos Daniel Cravinhos, namorado de Suzane na época, e Christian.

Cerca de 50 pessoas aguardavam a saída de Suzane do presídio. Às 17h25, um carro do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) entrou no local. Quinze minutos depois, saiu em alta velocidade com Suzane escondida dentro, provavelmente deitada no banco ou no chão. Três outros carros policiais faziam a escolta. Do lado de fora, gritos de "assassina" e "vai morrer". Ao chegar à casa da família Barni, Suzane voltou a ser insultada por vizinhos, que jogaram papel higiênico molhado no carro da polícia.

O veículo entrou pela porta dos fundos da garagem do prédio, mas uma multidão de fotógrafos, cinegrafistas e populares conseguiu entrar na garagem e cercou o carro. Escoltada por três policiais, Suzane teve de passar no meio do tumulto e entrar correndo no prédio. Por causa da correria, ela e Barni acabaram tropeçando e caindo de joelhos na escada que dá acesso ao prédio. Em nenhum momento, Suzane levantou a cabeça e deixou que vissem seu rosto.

Por volta das 20 horas, um de seus advogados, Mario Oliveira Filho, chegou ao condomínio. Depois de conversar com Suzane, falou com a imprensa. "Ela machucou um pouco o joelho por causa da queda", disse. Segundo ele, Suzane está ansiosa com o julgamento e ficou feliz por ter voltado para casa. O advogado ainda disse que Barni comentou que o policiamento no prédio deveria ser reforçado.

O alvará para a saída foi assinado ontem pelo juiz Richard Francisco Chequini, do 1º Tribunal do Júri de São Paulo, depois que o ministro Nilson Naves, do STJ, decidiu pela prisão domiciliar preventiva na sexta-feira. No total, Suzane passou 46 dias em Rio Claro.

Após quase um ano de liberdade, ela foi presa em 10 de abril. A Justiça acatou pedido do promotor Roberto Tardelli mencionando reportagens do Estado, sobre a aspiração de Suzane em cuidar do patrimônio da família, e do Fantástico, da Rede Globo, onde, sem saber que estavam sendo gravados, advogados orientavam a jovem a chorar e a se mostrar desesperada. Suzane passou três dias na Penitenciária Feminina Sant'ana, na zona norte da capital, e depois foi transferida para Rio Claro.

O advogado Oliveira Filho deve entrar hoje com habeas-corpus no Tribunal de Justiça (TJ) pedindo que a reportagem exibida pelo Fantástico não seja considerada uma prova do processo, por considerá-la ilícita.

JÚRI

As chances de Suzane ser julgada na segunda-feira no mesmo júri que os irmãos Cravinhos, no entanto, é mínima. Mesmo assim, ela terá de comparecer ao Fórum Criminal da Barra Funda, às 13 horas, e se sentar no banco dos réus.

Oliveira Filho vai pedir ao juiz do caso, Alberto Anderson Filho, que dispense Suzane de ir a plenário. Anderson, porém, já antecipou que negará o pedido. "Não há possibilidade de ela não ir ao plenário. Ser julgada no dia é outra questão."

O julgamento deve ser separado porque Suzane e os Cravinhos adotam teses de defesa diferentes. Os irmãos dizem que ela foi mentora do assassinato dos pais; a jovem alega ter sido manipulada pelos dois. Daniel e Christian devem ser julgados antes, por estarem presos há mais tempo que Suzane.

O juiz estima que o julgamento dure entre dois e três dias. Segundo Anderson Filho, nem defesa nem acusação querem que sejam lidas muitas peças do processo. Mesmo assim, essa fase deve durar cinco horas. Estão arroladas 20 testemunhas: 5 de cada réu e 5 da acusação.

O promotor Tardelli reiterou que a concessão de prisão domiciliar a Suzane é "uma situação absurda de privilégio". Para ele, o episódio mostra "que a lei não é igual para todo mundo, que a vida não é igual para todo mundo e que uns são mais iguais do que os outros".

A possibilidade de que Suzane fique pouco tempo presa também é grande. Em tese, caso seja condenada a 25 anos de prisão, por exemplo, poderá reivindicar progressão de pena, após cumprir um sexto da sentença. Ou seja, poderia passar do regime fechado ao semi-aberto após pouco mais de quatro anos. Nesse cálculo, são considerados os mais de dois anos que Suzane já ficou presa.

O advogado criminalista Roberto Podval lembra, no entanto, que a progressão de regime não é automática. Ao contrário, depende do tempo de pena definido, do comportamento de Suzane na prisão e de critérios do juiz.