Título: Evo retira Exército de instalações petrolíferas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

Governo avalia que não há mais riscos de interrupção das atividades pelas companhias

O governo boliviano iniciou ontem a retirada das forças militares que ocupavam as instalações petrolíferas no país desde o dia 1º, quando o presidente Evo Morales anunciou o decreto de nacionalização do setor. Na avaliação do governo, não há mais riscos de interrupção das atividades pelas empresas, que agora começam a negociar com autoridades do país as mudanças para o novo modelo.

"Não podemos seguir com os soldados nos poços de petróleo", disse Evo domingo, em evento no norte do Departamento de Potosí. Segundo ele, o Exército terá outras missões a cumprir, à medida que o plano de desenvolvimento e defesa dos recursos naturais avance para outros segmentos.

Sem dar detalhes sobre as novas operações, Evo disse que as prioridades da administração são mudanças no setor de mineração e a reforma agrária, e anunciou que o governo será obrigado a tomar terras improdutivas se os proprietários se recusarem a negociar.

Cerca de 3.100 militares bolivianos ocupam 56 instalações petrolíferas, entre campos produtores, refinarias, dutos e escritórios de empresas. Na época da ocupação, Evo disse que queria proteger as instalações de manifestações populares a favor da nacionalização.

O que o governo temia, porém, era que as empresas interrompessem a produção ou o bombeio de gás em represália à estatização dos ativos. Nos escritórios das empresas, os militares tinham a missão de evitar a retirada de documentos que vêm sendo usados para avaliar o valor das instalações no país.

As fortes imagens de militares ocupando bases de empresas privadas provocaram irritação em todo o mundo, principalmente no Brasil e na Espanha - países responsáveis por grande parte do investimento no mercado boliviano de petróleo e gás. Na Bolívia, acredita-se que a visita do ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, no início da semana passada, tenha contribuído para a decisão de retirar as tropas.

O governo boliviano avalia que o processo de nacionalização já está consolidado, faltando só os acertos dos novos contratos com as empresas atingidas. O decreto de nacionalização foi anunciado no campo de San Alberto, operado pela Petrobrás e eleito pelo governo atual como símbolo da entrega das riquezas bolivianas às multinacionais.

O texto prevê que toda a produção no país seja entregue à estatal YPFB, além de garantir que essa empresa tenha o controle de refinarias, empresas de transporte e armazenamento de petróleo e gás natural.