Título: Saldo comercial do agronegócio cresceu 5,9% de janeiro a abril
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

Ritmo de expansão foi menor do que o do 1.º quadrimestre de 2005 em relação ao mesmo período de 2004

O ritmo de crescimento do superávit da balança comercial do agronegócio brasileiro caiu no primeiro quadrimestre deste ano. Dados divulgados ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) mostram o saldo de US$ 11,24 bilhões entre janeiro e abril, uma expansão 5,9% ante o mesmo período de 2005. Nos quatro primeiros meses de 2005, o saldo cresceu 16,7% ante o primeiro quadrimestre de 2004, .

Um dos motivos para a diminuição do ritmo é a trajetória mais fraca de expansão das exportações, de 8,2% no primeiro quadrimestre, ante 14,6% no mesmo período do ano passado em relação aos quatro primeiros meses de 2004 -, que totalizaram US$ 13,24 bilhões.

Além disso, o forte aumento nas importações, que avançaram 22,8% e atingiram US$ 1,99 bilhão, foi determinante para esse desempenho.

De acordo com o chefe do Departamento de Assuntos Internacionais e Comércio Exterior da CNA, Antonio Donizetti Beraldo, o câmbio supervalorizado, que torna menos competitivas as exportações e mais atrativas as importações, é o motivo da desaceleração no superávit comercial.

Segundo Beraldo, as exportações totais do agronegócio em 2006 deverão somar US$ 43 bilhões, resultado praticamente estável em relação a 2005. No lado das importações, ele projeta um total de US$ 6 bilhões, ante US$ 5,2 bilhões em 2005.

"Isso vai provocar uma queda no saldo da balança comercial e, conseqüentemente, uma redução na participação do setor em toda a balança comercial do País", observou Beraldo.

Além de ter impacto nas vendas externas, a valorização do real também tem sido decisiva para a queda no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, que, pelos dados da CNA,caiu 0,24% nos dois primeiros meses deste anom, na comparação com dezembro do ano passado.

MAIS CUSTOS Além da valorização do real, que afeta negativamente as receitas do setor, o aumento nos custos de produção - como óleo diesel, frete, fungicidas e fertilizantes - também atrapalha o andamento do setor. "Os preços de comercialização não estão cobrindo os custos de produção", afirmou o assessor técnico da CNA, Getúlio Pernambuco.

O mau desempenho no primeiro bimestre do ano levou a CNA a projetar uma queda de 1,29% para o PIB do agronegócio em todo este ano.Com isso, o valor chegaria a R$ 530,77 bilhões. Se confirmada a estimativa, será o segundo ano consecutivo de queda na produção do setor, resultando numa perda total de R$ 33,12 bilhões,tomando-se como base o PIB de R$ 563,89 bilhões de 2004.

Antecipando-se à divulgação do PIB, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fará na próxima quarta-feira, Pernambuco criticou a metodologia do instituto para medição do produção do setor.

Segundo ele, o IBGE calcula o PIB do agronegócio com base na quantidade, sem levar em consideração os preços, o que distorce o resultado. Ele acredita que o IBGE vai mostrar um crescimento do agronegócio. "A informação será errada", afirmou.

FATURAMENTO Além de queda no PIB do setor, a CNA também projeta uma redução do faturamento da ordem de 2,2% na soma dos 25 principais produtos do setor. O chamado Valor Bruto da Produção (VBP) foi estimado em R$ 171,3 bilhões para este ano, ante R$ 175,1 bilhões em 2005.

As projeções da CNA não levam em conta os possíveis efeitos do pacote agrícola anunciado pelo governo na semana passada. O superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta, afirmou que, embora ajude em problemas imediatos, o pacote não contemplou devidamente os problemas estruturais da agricultura. "Nesse ponto, o pacote se restringiu ao seguro agrícola", disse Cotta.