Título: Copom pode reduzir ritmo de corte
Autor: Renée Pereira, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

Após 3 meses caindo 0,75 ponto, mercado passa a apostar em ritmo mais lento a partir da reunião de hoje

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzir o ritmo de queda da taxa Selic na reunião que começa hoje e termina amanhã. Depois de três cortes consecutivos de 0,75 ponto porcentual, o mercado financeiro acredita que chegou o momento de um recuo menor, de 0,5 ponto, conforme indicou pesquisa semanal do Banco Central, com economistas de instituições financeiras. Com isso, a taxa passaria para 15,25% ao ano, a menor taxa desde fevereiro de 2001. Apesar disso, a taxa de juro real continuaria a maior do mundo, em 10,5%, segundo cálculos da GRC Visão.

Na avaliação do economista da Corretora López León, Flávio Serrano, se forem considerados os fundamentos econômicos domésticos haveria espaço para cortes maiores. Mas a recente turbulência do mercado externo, por causa das incertezas quanto ao rumo dos juros americanos, pode contribuir para uma decisão mais cautelosa do Copom. A expectativa, diz ele, é de duas novas elevações da taxa americana, o que traria nervosismo ao mercado. Isso tende a elevar a cotação do dólar e, assim, pressionar os índices de inflação.

Mas, por enquanto, "o cenário para a inflação continua bastante benigno", afirma a economista-chefe da Mellon Global Investments - Brasil, Solange Srour. Para o mercado, o IPCA deste ano ficará em 4,32%, porcentual menor que a meta de 4,50% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O impacto da recente tendência de desvalorização do real sobre os preços, de acordo com Solange, só deverá chegar a preocupar se for mantido por um prazo mais longo. "Não sabemos ainda se este é um ajuste temporário ou não." Mesmo assim, ela avalia que o câmbio só colocará em risco o cumprimento da meta de 2007 se passar da marca dos R$ 2,30.

Mas Solange avalia que o aumento das incertezas no cenário internacional pode levar o Copom a cortar os juros em apenas 0,25 ponto porcentual. "É a hipótese menos provável. Mas não a descarto de todo", afirmou. O gerente do Banco Prosper, Carlos Cintra, aposta num corte de 0,5 ponto, como Serrano. Para ele, a ata do Copom de abril já indicava um corte menor da Selic este mês. Isso porque ainda não se sabe qual o impacto dos últimos cortes na economia do País, diz. "Além disso, tem a questão da turbulência externa." Cintra, no entanto, não acredita que a alta do dólar vá impactar a inflação neste ano. "As projeções mostram que a inflação vai ficar 0,2 ponto abaixo da meta."