Título: Investimento no exterior cresce 44%
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

Para o presidente do BC, Henrique Meirelles, remessas são consistentes e não tornam economia vulnerável

O estoque de investimentos brasileiros no exterior avançou 44% de dezembro de 2001 a setembro de 2005, de US$ 50 bilhões para US$ 71,6 bilhões, conforme dados apresentados ontem pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Para ele, os investimentos brasileiros no exterior são consistentes, e o fato de o País exportar capital não provoca vulnerabilidade na economia.

"Do ponto de vista macroeconômico, o Brasil está preparado para esses investimentos (no exterior). Não gera vulnerabilidade", disse ele no seminário "Novas Multinacionais Brasileiras", promovido pela Fundação Getúlio Vargas, no Rio. Ao fim do encontro, em entrevista, Meirelles informou que os estudos para mudanças na legislação cambial não representam apenas reação a "fatores conjunturais", mas refletem a necessidade de modernizar as normas.

O presidente do BC também voltou a afirmar que há "uma certa perspectiva de arrefecimento" na economia mundial, refletida no mercado. "Pode acontecer numa dimensão muito pequena ou pode nem acontecer." Ele apresentou dados que mostram crescimento das exportações nos últimos 12 meses até abril. Meirelles comentou que a semana passada foi "atípica" para vários setores do comércio exterior, mas ressaltou que a tendência é de aumento no volume das vendas externas.

Meirelles não concorda que um dos principais motivos da ida das empresas brasileiras ao exterior seja o baixo crescimento econômico do País nos últimos anos. Afirmou que, entre 2004 e 2006, o Brasil deverá crescer em média 3,7% ao ano. Segundo ele, as empresas brasileiras estão se globalizando, buscam vantagens competitivas e contornam problemas de barreiras tarifárias.

"Tudo isso faz com que seja um movimento saudável e gera para o País vantagens como a remessa, por parte dessas empresas, de dividendos e royalties para a economia brasileira, ajudando a equilibrar a longo prazo, mais uma vez, o balanço de pagamentos." Meirelles diz que o número de multinacionais brasileiras tem crescido, mas o total "certamente não é um número muito grande".

Segundo o presidente do BC, empresas brasileiras estão conseguindo classificações de crédito até melhores do que a do País, e isso tem "significado importante". "São as agências de rating começando a dizer que a macroeconomia brasileira já está atingindo um determinado nível em que o risco de um problema fiscal do setor público contaminar o setor privado passa a ser muito baixo."

Meirelles apresentou dados positivos da economia, como evoluções das exportações nos últimos 12 meses, renda média do trabalhador e criação de empregos, que segundo ele decorrerem da estabilização da economia. Sobre o pacote cambial, ele disse que a legislação terá de se adequar aos avanços da economia, citando a trajetória positiva dos saldos de conta corrente e comercial. Mas ressalvou que o processo de modificações nas normas cambiais tem de ser "bem-feito" e exige mudanças legislativas.