Título: Discurso do papa é criticado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, VIda&, p. A16

Ele teria minimizado responsabilidades por Holocausto

As declarações feitas pelo papa Bento XVI anteontem, nos campos de concentração nazistas de Auschwitz e Birkenau, na Polônia, tiveram repercussão negativa na Itália. A maioria dos jornais e dos líderes judeus disse que o papa aliviou a responsabilidade do povo alemão e o silêncio da Igreja durante o Holocausto.

Em sua visita ontem aos locais, o alemão Bento XVI não fez um discurso contra o anti-semitismo, como era esperado.

O presidente da União de Comunidades Judaicas Italianas, Claudio Morpurgo, disse ter ficado "muito decepcionado" pela maneira como o papa abordou o tema, "como se a eliminação maciça de judeus tivera sido um episódio isolado e não o fruto de uma operação cultural e política muito ampla e complexa que não pode ser ligada a apenas Hitler e seus ajudantes".

Para o historiador alemão Daniel Jonah Goldhagen, entrevistado pelo diário Il Corriere della Sera, "não é suficiente perguntar-se por que Deus não estava em Auschwitz, mas perguntar-se onde estava (o papa) Pio XII".

Segundo ele, as declaração foram um retrocesso em relação ao documento de 1998 do papa João Paulo II, Uma reflexão sobre o Shoah (Holocausto), em que ele pedia perdão pelo papel da Igreja e de seu rebanho na perseguição aos judeus.

Também na Espanha as declarações não foram bem-recebidas. "Bento XVI exime o povo alemão de sua responsabilidade nos crimes nazistas" é o título da reportagem no jornal El Mundo. O País também destaca as palavras de compreensão com seus compatriotas.