Título: 'Governo não tem perspectiva'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Internacional, p. A12

Político afegão diz que, apesar da melhoria da economia, país é muito dependente de ajuda externa e das drogas

Pouco após a queda do Taleban e a posse de Hamid Karzai como presidente do Afeganistão, Ali Jalali foi convidado por Karzai para trabalhar para o governo. Jalali, que fugira do país havia 22 anos, aceitou. Ele foi, por quase três anos, ministro do Interior, deixando o cargo no final de 2005 para lecionar na Universidade de Defesa Nacional de Washington.

Por que a violência aumentou no Afeganistão, sobretudo no sul? É uma conjunção de apoios externos, uso de refúgios seguros pelos militantes na área da fronteira, pouco controle do governo, pobreza, maior ligação entre traficantes de drogas e terroristas, intimidação do povo por bandidos e corrupção estatal. O Taleban e outras forças terroristas não têm muito respaldo. A população já rejeitou a ideologia e visão política deles. Se o governo fracassar, não será por causa do Taleban, mas porque o povo não vê mudanças significativas na sua vida.

Por que Karzai não faz mais? Ele é sincero e tenta. Mas lhe falta um partido coeso, uma equipe para ajudar a formular boas políticas e implementá-las. É difícil governar por meio de acordos com redes de relações regionais, senhores da guerra e oportunistas. Não há uma verdadeira perspectiva.

A economia melhorou? Nestes quatro anos, muito, mas a recuperação é frágil. Em março, a economia tinha crescido mais de 80% em relação a 2001, mas boa parte disso deriva da ajuda externa e das drogas. Estima-se que só 6% dos afegãos tenham eletricidade e menos de 20%, água limpa.

Mesmo com toda ajuda recebida? Em 2004, a quantia prometida chegou a US$ 28 bilhões para sete anos. Uma promessa não significa, porém, que esse dinheiro estará disponível.

Quanto da ajuda de fato chega? Em alguns casos, fiquei sabendo que foi menos de 30%.