Título: Cabul tem pior tumulto em 5 anos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Internacional, p. A12

Acidente na capital afegã desata fúria contra americanos e deixa 14 mortos. Mais de 50 taleban morrem no sul

Reuters, AP e Washington Post

Pelo menos 14 pessoas morreram e 142 ficaram feridas ontem nos piores distúrbios ocorridos na capital do Afeganistão, Cabul, desde a invasão liderada pelos EUA, em outubro de 2001. No fim da tarde, a calma já havia voltado à capital, mas as autoridades afegãs decretaram toque de recolher para garantir a segurança.

Os distúrbios em Cabul começaram depois que um caminhão que fazia parte de um comboio das forças americanas perdeu o controle e se chocou com vários automóveis em um movimentado cruzamento, matando cinco pessoas, segundo um comunicado do palácio presidencial. Já o Exército americano disse que apenas uma pessoa morreu no acidente.

Depois que uma multidão enfurecida pelo acidente começou a atirar pedras contra os veículos militares, as forças de segurança dos EUA abriram fogo contra civis afegãos. A polícia também fez disparos quando chegou ao local para ajudar os soldados americanos.

"Morte aos EUA, morte a Karzai (o presidente afegão) e à polícia", gritavam centenas pessoas no bairro das embaixadas, enquanto se ouvia os disparos de fuzis AK-47.

Algumas testemunhas culpam a polícia afegã pelas mortes, outras os soldados americanos, e algumas, ambos.Um fotógrafo da France Presse disse que viu os soldados americanos matarem pelo menos quatro pessoas. Esse clima de insegurança contrasta com as previsões feitas até há poucas semanas. De acordo com autoridades americanas, estava prevista a retirada de tropas para breve.

Os tumultos, que começaram no centro de Cabul, espalharam-se a vários bairros. Os manifestantes queimaram vários postos policiais, automóveis e edifícios, entre eles sedes de organizações estrangeiras. Também saquearam edifícios e lojas, enquanto avançavam na direção do palácio presidencial e do Parlamento.

O presidente afegão, Hamid Karzai, divulgou um comunicado, pedindo a calma e disse que o governo "fará o possível para proteger a vida das pessoas e suas propriedades". Ele também qualificou de "agitadores" os manifestantes envolvidos nos distúrbios em Cabul.

Na semana passada, os afegãos também manifestaram sua indignação após a morte de pelo menos 17 civis no sul do país em um ataque aéreo dos EUA contra rebeldes. Moradores da aldeia de Aziza dizem que 34 pessoas morreram.

BOMBARDEIO DOS EUA Mais de 50 rebeldes do deposto movimento radical islâmico Taleban morreram ontem em um bombardeio liderado pelos EUA contra uma mesquita na Província de Helmand, disse o vice-governador, Amir Mohammad Akhundzada.

Segundo ele, os taleban estavam reunidos na mesquita, no distrito de Kajadi, quando o bombardeio foi lançado antes do amanhecer. O ataque aconteceu depois que um comboio de tropas do Ocidente foi o alvo de um grupo de taleban.

As agências de notícias não conseguiram contactar as forças americanas para confirmar a informação. O vice-governador disse que membros de uma operação conjunta terra-ar, que envolvia soldados afegãos e americanos, entraram no distrito para capturar os rebeldes.

Mais de 300 pessoas, na maioria militantes, mas também dezenas de civis, soldados afegãos e quatro militares estrangeiros morreram nos combates que vêm sendo travados nas últimas semanas no sul do Afeganistão - principal foco rebelde -, na pior onda de violência no país desde a deposição do Taleban em 2001.