Título: MP pretende denunciar 50 por fraude com ambulância
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Nacional, p. A8

Quadrilha desbaratada pela Operação Sanguessuga envolveria parlamentares, assessores e servidores

O Ministério Público Federal (MPF) vai oferecer denúncia nesta semana contra pelo menos 50 pessoas por crimes de corrupção ativa e passiva, fraude em processo de licitação, crimes contra ordem tributária e formação de quadrilha. Todos estão envolvidos na chamada máfia das ambulâncias, desbaratada pela Operação Sanguessuga no último dia 4.

A quadrilha teria movimentado, entre 2001 e 2005, pelo menos R$ 110 milhões. Quatorze acusados continuam sendo procurados pela Polícia Federal (PF) - as prisões foram revogadas na terça-feira da semana passada e mantidas, no dia seguinte, pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie Northfleet.

Na denúncia, os procuradores Mário Lúcio Avelar e Paulo Gomes vão sustentar, com base em depoimentos e gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, que a quadrilha liderada pelo empresário Darci Vedoin, dono da Planam, agia nos gabinetes do Congresso e do Ministério da Saúde. Segundo o Ministério Público, o esquema envolveu assessores de parlamentares, servidores do governo federal, empresários e prefeitos, além dos próprios parlamentares.

A lista com os nomes, porém, não foi divulgada. O relatório com a denúncia será concluído até amanhã.

Os 129 inquéritos instaurados pela PF constataram a fraude milionária na compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares com dinheiro do Orçamento da União em seis Estados - Acre, Amapá, Mato Grosso, Minas, Paraná e Rio de Janeiro - e no Distrito Federal.

As apurações indicam que havia um superfaturamento de 110%. Só com a compra de ambulâncias podem ter sido desviados entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões.

A servidora afastada Maria da Penha Lino, que operava o esquema infiltrada no gabinete do então ministro da Saúde, Saraiva Felipe, optou por colaborar nas investigações para se beneficiar do programa da delação premiada, em que pode ter pena reduzida. Ela disse que o dinheiro para pagar parlamentares entrava na Câmara em cuecas, meias e malas.

Conforme a denúncia, nas investigações da Polícia Federal foi quebrado o sigilo bancário e fiscal de mais de 50 pessoas físicas e jurídicas. Foram identificados, ainda, pagamentos de empresas para contas de assessores de congressistas.