Título: Mattoso depõe à PF e complica Tião Viana
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2006, Nacional, p. A8

Líder petista teria passado informação sobre valor alto na conta do caseiro

Fracassou a tentativa do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso de assumir sozinho a responsabilidade pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, pivô da crise que há quase dois meses derrubou o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Ouvido ontem pela Polícia Federal em São Paulo, pela segunda vez, Mattoso entrou em contradição e complicou ainda mais a situação de Palocci e do líder do PT no Senado, Tião Viana (AC), que poderá ser convidado a prestar esclarecimentos.

Em entrevista ao Estado, publicada em 14 de fevereiro, Nildo contou que Palocci freqüentava uma casa alugada por lobistas de Ribeirão Preto no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, para partilha de dinheiro e festas. O então ministro acabou demitido do cargo 13 dias depois, acusado de participar de uma operação na qual foi violado o sigilo do caseiro para apurar depósitos em sua conta na Caixa.

Após o depoimento de ontem, a PF reforçou a convicção de que o ex-presidente da Caixa simulou uma consulta quando pediu à Seção de Informática, no dia 17 de março, que fizesse a pesquisa de conta do caseiro. A PF tem provas de que Palocci já tinha cópia do extrato de Nildo desde a noite do dia anterior, quinta-feira, 16 de março.

A argumentação de Mattoso ficou frágil após o depoimento do advogado Wlício da Costa. Ele relatou à Polícia Federal que Nildo, seu cliente, confidenciou ao jardineiro Leonardo Moura, em 10 de março, ter "um bom dinheiro" depositado numa conta poupança na Caixa. Queria comprar um terreno.

Segundo a PF, Moura relatou a história para a patroa, Helena Chagas, diretora da sucursal do jornal O Globo em Brasília. À PF, Helena confirmou ter ouvido a versão do seu jardineiro e disse que comentou o assunto com o líder do PT no Senado, Tião Viana. No mesmo dia, relatou, ela teria recebido uma ligação de Palocci, que queria saber se a história era verdadeira.

A investigação indicou que os R$ 25 mil na conta de Nildo haviam sido depositados por seu pai biológico, que não quis assumir a paternidade.