Título: Ouvidoria apura mais 2 casos de supostos grupos de extermínio
Autor: Eduardo Nunomura e Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Metrópole, p. C1

A Ouvidoria da Polícia abriu ontem mais dois procedimentos para investigar novas denúncias de mortes cometidas por um possível grupo de extermínio. Com os novos casos, aumentam de 12 para 19 o número de mortes suspeitas e de autoria desconhecida, que ocorreram na semana que o PCC iniciou a onda de ataques contra a polícia. "A cada dia estamos nos deparando com mais informações que levam a crer que realmente há um grupo de extermínio atuando em São Paulo e nas cidades vizinhas", disse o ouvidor Antônio Funari Filho. Os dois casos foram em Guarulhos e Carapicuíba. "As características são as mesmas: pessoas com roupas escuras, com toucas ninja e armas de grosso calibre."

Só em Guarulhos, foram cinco mortes no mesmo local - a Estrada de Itaim. As vítimas foram Valdemir da Costa, de 31 anos; Alexandro dos Santos, de 29; João Donizete Domingos, de 48; Francisco da Silva Oliveira e Ednei de Oliveira Eugênio, ambos de 25. "Pelos relatos de testemunhas e dados do boletim de ocorrência, o local era o ponto final de um lotação e as pessoas aguardavam, quando um Vectra e duas motos passaram atirando", contou o ouvidor. O crime ocorreu por volta de 20h30, da segunda-feira, dia 15.

Em Carapicuíba, as mortes foram bem na frente da casa de uma das vítimas - Tiago de Souza Ferreira, de 21 anos. Segundo o ouvidor, no domingo, dia 14, o rapaz e o amigo Alan de Ponte Ferreira, de 17 anos, conversavam no portão quando homens encapuzados desceram de um carro e atiraram. "Vou pedir o laudo dessas mortes para o Instituto Médico-Legal das cidades", adiantou Funari.

A investigação dos casos que indicam ação de grupo de extermínio vai ser tratada com prioridade, segundo a Ouvidoria. Para tanto, o ouvidor já pediu que a Secretaria da Segurança designe um delegado especializado em crime organizado para investigar essas mortes e repassar os dados para ele.

Em seguida, Funari deve pedir a lista de 31 mortes de autoria de policiais, mas que, segundo as autoridades, não têm ligação direta com a reação aos ataques do PCC. E, por último, o órgão se deterá em 17 mortes ocorridas nas "reações preventivas". Nesses casos, os policias saíram em busca dos suspeitos e, ao localizá-los, houve reação e troca de tiros.

"Foram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que estamos tentando eleger o que é mais urgente", alegou Funari. Ele descartou a possibilidade de a Ouvidoria intervir e cobrar a apuração da morte dos 41 policiais. No total, 47 procedimentos de investigação já foram abertos pelo órgão.

O ouvidor se reuniu ontem com representantes de entidades de defesa dos direitos humanos para formação da comissão mista, que pretende apurar, de forma independente, as circunstâncias de todas as mortes do período de ataques do PCC. A comissão será formada por 12 membros, representantes dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, Defensoria Pública e entidades.